Saiu no jornal Folha de São Paulo a matéria escrita por Fernando Tadeu Moraes sobre a profissão de arqueólogo no Brasil. dentre os entrevistados estados o professor Dr. Astolfo Araujo (Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo), Dr. Renato Kipnis (Scientia Consultoria) e Dr. Paulo Zanettini (Zanettini Arqueologia). A matéria retrata a necessidade urgente de cursos de bacharelado em arqueologia no Brasil e no estado de São Paulo, uma vez que as pós graduações não tem sido suficientes para formar bons arqueólogos, já que a carga horária é equivalente a apenas um semestre de uma graduação – de modo que os novos arqueólogos detém pouco conhecimento de importantes disciplinas arqueológicas e baixíssima experiência de campo.
(NOTA IMPORTANTE: 1) Isso descreve, claro, uma visão generalista dos pós-graduandos. Existem excelentes arqueólogos formados em pós-graduações apenas que obtiveram boa formação graças ao esforço pessoal. A crítica se faz com relação ao ensino. 2) Algumas das críticas são feitas pelas empresas de arqueologia. No entanto, é necessário lembrar que muitos dos novos arqueólogos optam por não trabalhar em empresas de contrato.)
Uma segunda matéria retrata o caso do novo prédio do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, que é o resultado de uma punição contra a empresa Brookfield, a qual destruiu uma casa bandeirista do século XVIII -patrimônio cultural – em São Paulo para construção de um edifício.
A matéria é divulgada aqui, uma vez que o acesso à Folha Online tem restrição à algumas pessoas:
PROFISSÃO ARQUEÓLOGO
Poucas atividades são tão romantizadas e associadas a aventura quanto a dos arqueólogos. Recentemente, no entanto, a profissão vem adquirindo um novo status com a chamada arqueologia preventiva, uma decorrência da aplicação mais frequente da legislação ambiental.
Diante da exigência de laudos arqueológicos para obras públicas e privadas de vulto (como hidrelétricas, rodovias e linhas de transmissão) e em locais de potencial histórico (como cidades antigas), o mercado de trabalho para o arqueólogo cresceu exponencialmente nos últimos anos.
Esse aumento pode ser medido pelo número de portarias de autorização de trabalho arqueológico emitidas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Desde 2000, há um crescimento quase contínuo do número de portarias emitidas. Apenas no ano passado foram 1.453.
Segundo Roberto Stanchi, coordenador de pesquisa arqueológica do Iphan, em 2013, 99% das autorizações emitidas pelo órgão se referem a estudos para empreendimentos econômicos. O 1% restante se refere a pesquisas eminentemente acadêmicas. A demanda crescente do mercado valorizou muito a profissão nos últimos anos, mas há um obstáculo: o número insuficiente de arqueólogos, muitos deles, com formação precária. O Estado de São Paulo, onde se concentram cerca de 18% de todas a portarias do Iphan, não possui, por exemplo, um curso de graduação em arqueologia.
Por iniciativa de professores do MAE (Museu de Arqueologia de Etnografia) da USP, foi proposto, há dois anos, um bacharelado em arqueologia. A USP ainda estuda a criação do curso. Segundo Astolfo Araújo, professor do MAE e um dos defensores do novo bacharelado, sempre que se aventava a criação de uma graduação em arqueologia, a justificativa para a resposta negativa era a de que não existia mercado para o formado. “Agora não existe mais essa justificativa. Pelo contrário, a não existência de um curso de arqueologia em São Paulo é deletéria”, afirma.
Araújo explica que a formação em arqueologia no estado de São Paulo é toda feita na pós-graduação. “Entram no mestrado pessoas das mais diversas áreas, e com uma carga horária de apenas 240 horas, o equivalente a um semestre da graduação, e uma dissertação, alguém pode receber o título de mestre e ser reconhecido como arqueólogo”. Fora de São Paulo a situação não é muito melhor. A maioria das graduações é recente e algumas nem formaram suas primeiras turmas, como na UERJ e na UFMG. O país todo conta atualmente com 12 graduações na área.
MERCADO
Donos de empresas reclamam da dificuldade para compor equipes arqueológicas e da escassez de bons profissionais no mercado.
“Faltam arqueólogos e, principalmente, bons arqueólogos”, diz Renato Kipnis, um dos diretores da Scientia Consultoria. “Vemos que com arqueólogos novos, a formação deles acaba se completando durante o trabalho de campo nas empresas”, diz.
Para Paulo Zanettini, diretor da Zanettini Arqueologia, deve haver um equilíbrio na formação dos novos profissionais. “A universidade não pode se submeter ao mercado, mas também não pode se dissociar dele.”
Entre as deficiências, estão a pouca experiência de trabalho de campo, pouco conhecimento de áreas como a geomorfologia (estudo sobre a formação e evolução do relevo) e a análise de materiais líticos (pedras lascadas ou polidas) e desconhecimento da legislação ambiental.
Apesar da grande procura atual por arqueólogos, Zanettini lembra que o mercado de trabalho ligado à arqueologia preventiva está sujeita às oscilações da economia global e da continuidade da tendência de obras do governo.
Empresa punida patrocinou nova sede de museu
Uma das razões para a criação do bacharelado em arqueologia da USP é a nova sede do MAE (Museu de Arqueologia e Etnografia), que deverá abrir no ano que vem. É a primeira vez que o museu terá uma sede pensada para esse fim – e não prédios adaptados, como aquele onde fica.
Ironicamente, a nova sede é fruto de um dano ao patrimônio arqueológico. O imponente edifício Pátio Victor Malzoni, na avenida Brigadeiro Faria Lima, foi construído em um terreno que abrigava uma casa bandeirista construída no século 18. Os trabalhos se iniciaram sem pesquisa arqueológica prévia. A obra foi embargada e no final de 2010 foi assinado um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) em que a incorporadora Brookfield, que liderava o empreendimento, se comprometeu a construir o novo museu.
O projeto é do arquiteto Paulo Mendes da Rocha.”O termo foi assinado visando a compensação dos danos que haviam sido causados”, diz o procurador da República Adílson Prudente do Amaral Filho, que acompanha o cumprimento do termo.
A Brookfield informa que o TAC firmado pela empresa e o Ministério Público Federal teve como objetivo preservar o patrimônio arqueológico encontrado no terreno na avenida Faria Lima.
Fonte 1: Folha de SP
Fonte 2: Folha de SP