Arqueologia Amazônica

Autores: Avelino Gambim Júnior & Jelly Juliane Souza de Lima

A Arqueologia Amazônica, ou melhor, as Arqueologias na Amazônia, buscam através das diferentes materialidades e abordagens, compreender a longa história de ocupação humana, desde o povoamento antigo que remonta mais de 12 mil anos atrás até os momentos recentes de nossa história contemporânea.

Ao pensar na Arqueologia Amazônica, é automático as pessoas relacionarem esta ao estudo dos “cacos” deixados pelos povos indígenas antes do início do processo da colonização européia. A Arqueologia Amazônica busca entender as formas das mudanças e permanências do modo de vida dos grupos humanos que ocuparam ao longo do tempo o território Amazônico.

Exemplos de cerâmica arqueológica da região amazônica. Crédito: Fotomontagem de Claide Moraes; fotos dos fragmentos: Edvaldo Pereira; fotos dos vasos: Claide Moraes; desenho em pontilhismo: Val Moraes.

No entanto, é preciso entender que os atores envolvidos no processo de ocupação da Amazônia, não se resume ao protagonismo dos povos indígenas. Para entender mais sobre a nossa longa história de ocupação, é necessário compreender que o pêndulo da História balança em várias direções.

De um lado, temos os povos indígenas que deixaram evidências das antigas aldeias, cemitérios, monumentos de pedra, geoglifos, paliçadas defensivas, elevações de terra e outras modificações na paisagem e manejo dos ecossistemas (terras pretas, terras mulatas e manejo florestal).

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Exemplo de um sítio arqueológico do Estado do Acre conhecido como “geóglifo”. Crédito: Diego Gurgel/Divulgação/Setul

As pesquisas desenvolvidas procuram entender a organização social, a emergência das sociedades complexas (ex: cacicados), universo simbólico e arte indígena (ex: cerâmica e arte rupestre), densidade populacional e práticas funerárias, as interações e trocas entre indígenas e indígenas (na Amazônia, entre Amazônia e Andes, ou Amazônia e Ilhas do Caribe por exemplo) no passado anterior ao contato.

Do outro lado, após o processo de colonização, emergiram interações entre os povos indígenas, europeus e africanos. Como resultado, se encontra na Amazônia os sítios arqueológicos de contato, as edificações como as fortificações de pedra ou feitas de taipa, igrejas e cemitérios, quilombos, mocambos, cidades e instalações industriais.

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Exemplo de fortificação de pedra do período colonial no Estado do Amapá, Fortaleza de São José de Macapá. Crédito: Trip Advisor.

Surgem pesquisas que visam compreender a arqueologia da escravidão e diáspora africana, encontros coloniais, arqueologia urbana, arqueologia do capitalismo e industrial (ex: primeiras indústrias que se instalaram na região e que hoje se encontram entregues em alguns casos em estado de abandono).

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Exemplo da ruína industrial da Fordlândia, no Estado do Pará, criada para abastecer matéria prima (borracha) para a produção de pneus em Detroit, EUA. Crédito: Lugares Esquecidos.

Na Amazônia, as múltiplas vozes das comunidades ribeirinhas tradicionais e suas relações com o patrimônio arqueológico emergem como temas de interesse da pesquisa arqueológica. Nas comunidades ribeirinhas tradicionais, as contribuições da Arqueologia visam fortalecer o interesse e a valorização do patrimônio arqueológico e perceber como as pessoas incorporam nas suas narrativas a presença dos vestígios arqueológicos.

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Na Vila de Joanes, no Marajó Estado do Pará, é comum as crianças possuírem pequenas coleções de moedas. Fonte: Bezerra, 2011, p. 66.

Avelino Gambim Júnior é Bacharel em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC RS) e mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui experiência em Arqueologia Pré-colonial, Bioarqueologia e História indígena, sendo atualmente professor no curso de História da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

Jelly Juliane Souza de Lima é Licenciada em História pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e mestra em Arqueologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colaboradora do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (CEPAP/UNIFAP). Possui experiência na área da Arqueologia pré-colonial, análise cerâmica, ensino de história e história indígena.

Para saber mais sobre o assunto:

ABREU DA SILVEIRA, Flávio Leonel. Paisagens do Bosque Rodrigues Alves, Belém (PA): considerações sobre a conservação do patrimônio urbano no contexto amazônico. Antíteses, v. 7, n. 14, 2014.

ALBUQUERQUE, Marcos; LUCENA, Veleda. Arqueologia Amazônica: o potencial arqueológico dos assentamentos e fortificações de diferentes bandeiras. Arqueologia Amazônica, v. 2, p. 968-1019, 2010.

BEZERRA, Márcia. As moedas dos índios: um estudo de caso sobre os significados do patrimônio arqueológico para os moradores da Vila de Joanes, ilha de Marajó, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, p. 57-70, 2011.

COSTA, Diogo. Arqueologia dos Africanos escravos e livres na Amazônia. Vestígios-Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica, v. 10, p. 69-91, 2016.

GOMES, Denise Maria Cavalcante. Amazonian Archaeology and Local Identities. Ethnographies of Archaeological Practice: Cultural Encounters, Material Transformations, v. 1, p. 148, 2006.

GOMES, Denise Maria Cavalcante. Cotidiano e poder na Amazônia pré-colonial. EDUSP/FAPESP, 2008.

MORAIS, Claide & NEVES, Eduardo Góes. O ano 1000: Adensamento populacional, interação e conflito na Amazônia Central. Amazônica, Revista de Antropologia, 4 (1), p. 122-148. 2012.

NEVES, Eduardo Goés. Arqueologia da Amazônia. Zahar, 2006.

ROOSEVELT, Anna Curtenius. Arqueologia amazônica. História dos índios no Brasil, p. 53-86, 1992.

SCHAAN, Denise Pahl. Múltiplas vozes, memórias e histórias: por uma gestão compartilhada do patrimônio arqueológico na Amazônia. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 109-136, 2007.

SILVA, Fabrício Herberth Teixeira. UMA DELICIA DIARIA! Transformação nos hábitos alimentares e distinções a partir da manteiga importada em Santa Maria de Belém do Grão-Pará do século XIX. Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História. ISSN 2176-2767, v. 40, 2010.