Texto de Márcia Jamille
Derivados da Núbia, atual Sudão, os chamados atualmente de “Faraós Negros” até poucas décadas tinha sua história pouco conhecida, contudo, na atualidade já estão começando a despertar o interesse em termos de pesquisa.
Pertencente a um país extremamente rico em ouro, as sociedades núbias foram dominadas pelos egípcios durante séculos graças a este material. Contudo, apesar da sua antiga subordinação, em meados de 700 a.E.C. guerreiros kushitas (palavra advinda de Kush, o império núbio), bastante conhecidos por sua perícia militar, adentraram o Egito com o objetivo de dominar o país. Já tinham ocorrido outras tentativas, mas todas falharam, uma vez que qualquer principio de revolta em outros séculos era abafada pelos faraós, mas desta vez os antigos servos conseguiram se sobressair criando a 25ª Dinastia (Terceiro Período Intermediário), isto graças ao caos políticos em que o Egito se encontrava.
Acredita-se que um dos responsáveis pela empreitada foi o rei Piye que conseguiu o feito de levar a sua frota naval, mesmo após alguns combates em solo egípcio, até Mênfis. Seu sucesso foi tamanho que ao chegar ao destino desejado já era recebido como faraó do Alto e Baixo Egito, cujo domínio seguia até o Mediterrâneo. Conhecemos este feito graças a “Estela de Piye”, encontrada em 1862 no templo de Amon em Gebel Barkal (Sudão). Sua coroação foi um dos destaques da 25ª Dinastia.
Contudo, embora tenha viajado de sul a norte do Egito para tomar o trono, Piye governou o país da cidade de Napata, na Núbia. Os motivos para tal nos são desconhecidos. No entanto, seu sucessor, Chabaka, transferiu o poder de volta para a cidade egípcia de Mênfis.
O número real de faraós núbios é incógnito. Grimal (2012), por exemplo, considera a existência de sete. São eles:
◘ Alara: o qual sabemos da existência, mas não existe menção sua direta como faraó;
◘ Kachta: cuja autoridade chega a Assuã;
◘ Piye: filho de Kachta e celebre faraó deste período;
◘ Chabaka: é considerado por Maneto como o fundador da 25ª Dinastia;
◘ Chabataka (Chebitku): existem indícios escritos que apontam uma batalha sua na Palestina contra os assírios.
◘ Taharka: disputou a soberania do Egito contra os assírios;
◘ Tantamano: apesar de uma vitória significativa contra os assírios, ele perde o domínio do Egito.
Já Baines e Malek (2008) aponta somente seis, excluindo Alara.
A sepultura de alguns destes faraós, renegados pela historiografia e Arqueologia pelo simples fato de serem negros, estão no antigo território de Kush, mas especificamente no atualmente chamado de El-Kurru, no norte do Sudão.
Referências:
BAINES, John; MALEK, Jaromir. Deuses, templos e faraós: Atlas cultural do Antigo Egito (Tradução de Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Michael Teixeira, Carlos Nougué). Barcelona: Folio, 2008.
DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo (Tradução de Paulo Neves). Porto alegre: L&PM, 2011.
GRIMAL, Nicolas. História do Egito Antigo (Tradução Elza Marques Lisboa de Freitas. Revisão Técnica Manoel Barros de Motta). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
Por que a historiografia coloca os núbios como “faraós negros” se os egípcios foram por quase toda a história compostos por negros, inclusive seus faraós?
Isso dá a impressão errônea de que os faraós egípcios eram brancos (como podemos ver na teledramaturgia atual)
Leonardo,
Porque as comunidades egípcias não eram em sua totalidade negras (mas não eram descendentes da mítica “raça branca” do Petrie o qual, felizmente, desmentiu mais tarde), já os núbios em suma tinham a pele mais escura e concentraram mais feições negroides tanto na sua morfologia como na estatuária, daí a distinção “Faraós Negros” para falar da Dinastia Kushita.
A outra questão é que por muito tempo Egiptólogos tentaram ignorar a existência de uma dinastia sumariamente negra e quando reconheciam que núbios tinham dominado o Egito os definiam como “efêmeros”, alguns usavam até o discurso de que eles jamais teriam a capacidade de gerenciar um país (ignorando até mesmo a existência de um reino na Núbia), desta forma, quando a Dinastia Kushita começou a ganhar espaço nas discussões o uso do termo “Faraós Negros” não só colocou força na causa como também chama muita atenção para eles.
Abraços.
P.S: Olhando o seu comentário percebo que realmente para quem é leigo dá uma impressão bem errada de que os demais faraós eram exclusivamente brancos. Darei nota disso da próxima vez.
Parabéns por sua colocação. Confesso que nunca vi uma egiptóloga com uma mente aberta pela verdade , como você. A maioria dos egiptólogos , mesmo diante da verdade escura do Egito, encistem em ocultar a realidade. Parabéns por sua seriedade em se tratar uma rica sociedade africana.
[…] http://jchistory.webnode.pt/civiliza%C3%A7%C3%A3o%20nubia/#! http://arqueologiaeprehistoria.com/2014/08/10/deuses-negros-os-faraos-advindos-da-nubia/ BAINES, John; MALEK, Jaromir. Deuses, templos e faraós: Atlas cultural do Antigo Egito (Tradução […]
Eu visitei uma aldeia Núbia, que fica numa ilha no Nilo. No Egito são chamados naturalmente como os “negros núbios” Eles recebem turistas para passar a tarde em suas casas por 50 dólares. Recebemos um lanche muito gostoso e conhecemos uma casa de moradia. Aspecto interessante, no meio da sala um poço gradeado e dentro dele um crocodilo. (Deus Sobet?).Perguntei ao guia como era vista sua religião pelos governo egipcio muçulmano- ele respondeu que era aceito. As casas parecem as de candomblé da Bahia, as vestes das mulheres semelhantes também. La comentam dos faraós negros núbios. Os egipcios relatam que não tem preconceito em relação a cor e raça. Mas os egipcios no geral saõ brancos.