Pesquisa aponta que a indústria lítica recente de Palestina de Goiás é diferente da antiga tradição Itaparica em Serranópolis

João Carlos Moreno de Sousa, em seu artigo mais recente publicado no novo periódico internacional de divulgação científica Palaeoindian Archaeology, realizou uma revisão dos estudos tecnológicos sobre a indústria lítica no sítio arqueológico Córrego do Ouro 19 (também conhecido pelo código GO-CP-17). O autor comparou os dados de suas próprias análises com os dados de pesquisas realizadas por outros autores sobre o mesmo sítio arqueológico. O sítio em questão está localizado na região de Palestina de Goiás, sudeste goiano, a cerca de 200 km de outra região arqueológica bastante conhecida e também estudada anteriormente pelo autor: a região de Serranópolis.

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Localização da região de Palestina de Goiás e área de abrangência da tradição Itaparica. Crédito da imagem: João Carlos Moreno de Sousa.

A tradição itaparica seria um grupo cultural paleoíndio identificado por diversos arqueólogo ao longo das últimas décadas na região Nordeste do Brasil, assim como em todo o planalto central Brasileiro. Sítios arqueológicos foram associados a esta tradição arqueológica devido à grande presença de artefatos lítico conhecidos como “lesmas” (raspadores multifuncionais de forma alongada). Apesar de este tipo de artefato ser encontrado no Holoceno Médio (entre cerca de 8 mil e 4 mil anos atrás) no Brasil Central, sua presença é bem maior durante em períodos anteriores, até cerca de 12 mil anos atrás.

Os primeiros pesquisadores a trabalharem na região entre os anos 70 e 80 associaram a região de Palestina de Goiás à tradição Itaparica. As pesquisas mais recentes não realizam esta associação, mas concordam que há similaridade entre os artefatos da região com artefatos encontrados na região de Serranópolis.

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Desenho técnico da única lesma encontrada em toda a região de Palestina de Goiás. A peça foi encontrada no sítio Córrego do Ouro 19 (GO-CP-17). Crédito da imagem: João Carlos Moreno de Sousa.

De acordo com o autor, apenas uma lesma foi encontrada em toda região de Palestina de Goiás (justamente no Córrego do Ouro 19), o que por si só já descarta esta ideia de similaridade com Serranópolis, uma vez que em Serranópolis este artefato é encontrado em todos os sítios da região – para se ter uma ideia, já foram encontradas dezenas deste mesmo artefato em uma pequena escavação de um metro quadrado. Logo, a lesma de Palestina de Goiás seria um achado raro, e não pode ser tomada como um artefato típico.

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Exemplos de artefatos típicos do sítio Córrego do Ouro 19 (GO-CP-17). Crédito da imagem: João Carlos Moreno de Sousa

O autor ainda fornece os resultados do estudo de todos os tipos de vestígios líticos do sítio Córrego do Ouro 19, demonstrando quais são as características mais comuns desta indústria lítica, e cita sua pesquisa anterior em Serranópolis cujos resultados não foram similares. Além disso, os sítios associados à tradição Itaparica possuem datas de mais de 12 mil anos, enquanto os de Palestina de Goiás são mais recentes que 5 mil anos. De acordo com o autor, a lesma pode ter sido obtida através do contato com grupos Itaparica, ou um resquício de uma tecnologia ancestral que foi desaparecendo ao longo do tempo.

O artigo completo em inglês pode ser acessado no link abaixo:

Moreno de Sousa, J. C. 2016. Did Palaeoindian technology persist during the Middle or Late Holocene in central Brazil? A review from the Córrego do Ouro 19 site (GO-CP-17), Goiás state. Palaeoindian Archaeology, 1 (1): 32-49.   

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