Por: Enrico Baggio
Pesquisadores encontraram, em um fóssil do Pleistoceno, o registro de um câncer ósseo que afetou um mamífero não-humano. A equipe de pesquisadores, composta por estrangeiros e brasileiros, considera a descoberta de grande importância, uma vez que é não só o primeiro registro de câncer para um mamífero não-humano do quaternário, mas também a primeira vez que esse tipo de câncer específico, o osteossarcoma parosteal foi encontrado em um espécime fóssil. O artigo foi publicado na conceituada revista internacional Historical Biology.
O espécime se trata do fêmur de um indivíduo da espécie Nothrotherium maquinense, a menor preguiça terrícola do Pleistoceno. O fóssil foi coletado na Lapa dos Peixes I, na Bahia, e atualmente está no acervo do Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro.

A protuberância foi encontrada na extremidade do fêmur direito e os pesquisadores realizaram testes macroscópicos, histológicos e radiológicos na elaboração do diagnóstico, que envolveu inclusive uma tomografia computadorizada do espécime fóssil. Os resultados revelaram um crescimento ósseo de massa densa que não afetou o osso cortical e com estrutura interna desorganizada.

Depois de uma extensa comparação com diferentes tipos de câncer, os pesquisadores concluíram o diagnóstico como osteossarcoma parosteal. Segundo os autores, que se embasaram na manifestação da doença hoje em dia para pensar os possíveis sintomas do passado, é provável que a preguiça tenha sofrido diversas implicações da doença. Um dos autores do artigo, o professor Dr. Fernando Barbosa, explica que a pesquisa é importante inclusive para um entendimento mais profundo do câncer na atualidade: “Estudos recentes tem sugerido que o mecanismo gerador de tumores é o mesmo para todos os animais. Nosso estudo pode auxiliar nesse entendimento, pois nós demonstramos que um tipo de câncer ósseo normalmente diagnosticado em humanos foi presente no passado remoto, com as mesmas características anatômicas e radiológicas“.
Por mais que não seja possível determinar a doença como causa da morte, é provável que a preguiça tenha sofrido de inchaço e dor local além de restrições nos movimentos da junta. Isso pode ter dificultado seu acesso a alimentação, água e locomoção no geral, inclusive em momentos de fuga ou luta contra predadores.
O achado levou, portanto, a um importante estudo com conclusões inovadoras para a paleontologia internacional. Segundo o professor Dr. Fernando Barbosa, um dos autores do artigo “Estudos paleopatológicos em geral estão contribuindo de forma bastante significativa para o entendimento do dia-a-dia dos animais extintos. E neste trabalho, nós sugerimos como o fim da vida do animal estudado foi bastante difícil, provavelmente com muita dor e sofrimento“. Considerando a raridade da identificação de condições patológicas em espécimes de mamíferos do Quaternário, esse artigo é uma importante soma ao conhecimento das dinâmicas cotidianas, patológicas e ecológicas no passado.
Para ler o artigo original, acesse: Barbosa, F.H.S. et al. (2020). First cancer in an extinct Quaternary non-human mammal. Historical Biology.
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