O portal A Nova Democracia publicou no último dia 29 de novembro a seguinte denúncia do repórter Ângelo de Carvalho, a qual reproduzimos com a devida autorização.
CRESCE A ARQUEOLOGIA FALSA NO SUL DO BRASIL
Por Angelo de Carvalho, 29/11/2023
A chamada pseudoarqueologia, ou arqueologia falsa, está registrando uma fase de crescimento no Paraná e Santa Catarina, notadamente em casos ligados ao Caminho do Peabiru, uma rota milenar indígena que unia o oceano Atlântico ao Pacífico.
Ao mesmo tempo em que a pesquisa científica realiza avanços nos dois estados, surgem episódios de falseamento que prejudicam a compreensão real do significado da trilha de cerca de 4 mil km, que começava no litoral de SC, PR e SP e, após cruzar os Andes, terminava no litoral do Chile (que era sul do Peru, antes da guerra de 1883).
Na “salada”, ETs e incas
Na mistura de enganos variados, o trecho do Paraná hoje recebe deturpação por parte de um grupo denominado Dakila Pesquisas, liderado por Urandir Fernandes.
É a mesma pessoa que criou em 2009 o histriônico e desmascarado ET Bilu e atualmente difunde a fantasia de Ratanabá, uma “cidade de milhões de anos” perdida na Amazônia.
Em S.Catarina, incentivado por governistas paranaenses, um grupo composto por empresários e políticos divulga a tese falseadora de que o Peabiru tinha um percurso diverso do verdadeiro.
“Diz-se que passava por Joinville e Garuva, o que não possui comprovação alguma”, asseguram os estudiosos Rosana Bond e Fábio K. Nunes.
Fala-se também que incas peruanos estiveram envolvidos na construção de uma escadaria de pedras no garuvense Monte Crista.
Um distúrbio mental
O mais recente empreendimento a propagar a presença inca é o site Brasil Primitivo/BP.
Uma das características do BP é apresentar rochas de formas curiosas como se fossem obras de humanos antigos, um hipotético “Povo da Pedra”.
Tudo indica, no entanto, que tal abordagem “trata-se tão somente de uma pareidolia”, comenta um pesquisador catarinense. Pareidolia é um distúrbio/fenômeno psicológico pouco grave e numeroso. Ele consiste em “ver” rostos humanos ou animais em objetos (rochas, por exemplo), sombras, luzes e outros estímulos visuais aleatórios.
Negócio lucrativo
Embora estudiosos respeitados e também o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em laudos de 2008 para cá) já tenham descartado presença inca no estado catarinense, o BP insiste na tese e fez a seguinte postagem, dias atrás: “Assista ao reels e entenda melhor como os Incas vinham do Peru até Santa Catarina.”
Pensa-se haver várias razões para tal insistência, e entre elas estaria o apoio prestado pelo BP a uma hospedaria vizinha ao Monte Crista.
São comuns os eventos neste local, com incentivo e propaganda do BP, pelos quais são cobrados em média 700 reais por cliente.
Parceiro do Ratinho
Ídolo do ex-secretário bolsonarista da Cultura (ator Mário Frias, que o elogiou em postagem na rede social) o chefe da Dakila,Urandir, tem anunciado em vídeos que firmou “parceria” com o governo do Paraná, o qual está implantando uma Rota Turística Caminhos de Peabiru.
Não se sabe detalhes da verba fornecida pelo projeto do governador bolsonarista Ratinho Jr. mas Urandir tem desagradado arqueólogos estaduais, ao divulgar dados mentirosos sobre o Museu Paranaense, após visita intempestiva à instituição.
E também por afirmar que o Caminho do Itupava (cogitado como peabiruano) foi transitado por seres extraterrestres.