Juliana Brandão
Sabia que sua casa pode ser considerada um artefato arqueológico? Isso mesmo! Tal como qualquer objeto móvel, como vasilhas cerâmicas, louças, machados líticos, dentre outros, as construções arquitetônicas também são consideradas artefatos arqueológicos – ou melhor: superartefatos.
Existe uma linha de pesquisa chamada Arqueologia da Arquitetura que busca compreender tanto as funções práticas/utilitárias como as funções simbólicas/ideológicas, materializadas nas edificações. Isso porque entende-se que elas são objetos ativos das relações sociais e, portanto, possuem grande potencial de nos informar sobre a sociedade na qual estão inseridas.
Há diferentes formas de se abordar as construções arquitetônicas dentro da Arqueologia:
- Analisar os aspectos tipológicos, focando no estilo, métodos e estratigrafias construtivas. Geralmente, os trabalhos com essa abordagem estão ligados a restauração e conservação do patrimônio arquitetônico.
- Identificar relações entre mudanças sociais e arquitetônicas através do tempo.
- Relacionar a forma arquitetônica com fatores culturais ou comportamentais.
- Identificar fatores econômicos ou demográficos refletidos nas formas arquitetônicas.
- Analisar questões ideológicas, simbólicas ou estratégias de controle e poder presentes nos espaços edificados.
- Abordagem hermenêutica que analisa a arquitetura como a materialização de discursos sociais, apresentando, portanto, um tipo de comunicação não-verbal.
A partir dessas abordagens e da aplicação de metodologias as mais diversas, é possível estudar variadas edificações: escolas, hospitais, prisões, unidades domésticas, dentre outros. Esta linha de pesquisa, que na Europa vem se desenvolvendo desde a década de 1990, tem crescido exponencialmente no Brasil nas duas últimas décadas e ainda tem muito a nos apresentar.
Para saber mais sobre o assunto:
BRANDÃO, J. Arquitetura que Enlouquece: Poder e Arqueologia. 2015. 150f. Dissertação (Mestrado em Antropologia, área de concentração Arqueologia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.
LEMOS, C. M. Arquitetando o terror: Um estudo sensorial dos centros de detenção oficiais e clandestinos da ditadura civil-militar do Brasil (1964-1985). 2019. 384f. Tese (Doutorado em Arqueologia) – Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, 2019.
MARKUS, T. A. Building and Power: Freedom and Control in the Origin of Modern Building Types. Londres e Nova York: Routledge, 1993.
MOREIRA, J. B.; SOARES, F. C. Muralhas que comunicam: fortificações catarinenses como portais de acesso ao Brasil Meridional. In: SOARES, F. C. Arqueologia das fortificações: perspectivas. Florianópolis: Lagoa, 2015, p. 101-148.
NAJJAR, R. Para além dos cacos: a Arqueologia Histórica a partir de três superartefatos (estudo de caso de três igrejas jesuítas). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 6, n. 1, p. 41-55, 2011.
STEADMAN, S. R. Recent Research in the Archaeology of Architecture: Beyond the Foundations. Journal of Archaeological Research, v. 1, n. 4, p. 51-93, 1996.
TIRELLO, R. A. A arqueologia da arquitetura: um modo de entender e conservar edifícios históricos. Revista CPC, v. 3, p. 145-165, 2006.
THIESEN, B. V. As paisagens da cidade: Arqueologia da área central da Porto Alegre do século XIX. 1999. 320f. Dissertação (Mestrado em História) – PUCRS, Rio Grande do Sul, 1999.
ZARANKIN, A. Paredes que Domesticam: Arqueologia da Arquitetura Escolar Capitalista. O caso de Buenos Aires. São Paulo: Fapesp, 2002.
Sobre a autora:
Juliana Brandão é formada em História pela Universidade Federal do Pará e possui mestrado e doutorado em Antropologia, com concentração em Arqueologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolveu pesquisas sobre instituições psiquiátricas mineiras do século XX, analisando-as a partir da Arqueologia da Arquitetura.