Por Gabriel Peixoto
Tradicionalmente aprendemos que o percurso da humanidade é dividido em dois grandes momentos: a Pré-História e a História. O aparecimento da escrita é o grande ponto de virada do primeiro para o segundo momento. Mas e então, onde entra essa tal de “Proto-História”?
Podemos compreender a Proto-História como um momento intermediário, de hibridez, de transição, depois da Pré-História e anterior à História. É, por definição, um momento de grande complexidade e dinamicidade cultural. Na Europa Ocidental estamos falando, genericamente, dos inícios do I milênio a.C. aos seus finais. Na medida em que as civilizações mediterrânicas, como os gregos, romanos e fenícios, colonizavam ou conquistavam outras áreas, essas mantiveram diversos contatos – bélicos ou comerciais – com populações autóctones. Essas comunidades indígenas ainda preservavam características de raízes pré-históricas e, com esses contatos estrangeiros, selecionavam, escolhiam e apuravam as “inovações” mediterrânicas e vice-versa. Conferimos nesse momento uma grande movimentação de pessoas que com elas carregavam essas “inovações”. Como por exemplo, os romanos adotaram o gladium (tipo de espada) de algumas populações hispânicas. Ou ainda, algumas comunidades célticas do leste da França valorizavam grandes vasos gregos, nomeadamente o krater, e o utilizaram em rituais de inumação (vide o famoso enterramento de Vix).
A proto-história foi um momento estruturante na história da humanidade, sendo nela contida comunidades de diferentes organizações sociais e políticas com diferentesa ideologias, cosmologias e teologias.
O próprio termo é formado pelo prefixo proto- (que vem do grego πρῶτος e é comumente traduzido como ‘primeiro’, ‘inicial’ ou ‘anterior’) e a palavra história. Dentro da Arqueologia e de outras ciências utilizamos deste prefixo quando nos referimos aos estágios iniciais de algo, ao seu começo.
Portanto, chamamos sociedades de ‘proto-históricas’ aquelas que não possuem a escrita per se, mas que são contemporâneas daquelas que possuem.
Por exemplo, os gregos e os romanos nos deixaram textos (informações escritas) sobre comunidades ou povos que eles diretamente – ou indiretamente – contactaram. São informações ‘terceirizadas’, alheias e sobrecarregadas de etnocentrismos. Um exemplo concreto: o famoso general e ditador romano Júlio César escreveu um tratado sobre a conquista da Gália (França), chamado de ‘De Bello Gallico’ (Traduz-se ‘Sobre a Guerra da Gália’), em que nele descreve muitos costumes, hábitos e outros elementos culturais dos povos que habitavam aquela região. Ou ainda Estrabão, geografo grego, a quem foi encomendado um grande atlas “mundial”, em seu livro ‘Geografia’ descreve tanto as características geográficas de regiões mas também os povos e populações – e seus costumes – que nelas habitavam. Outros célebres autores clássicos que podemos listar: Avieno (Ora Marítima), Plínio-o-velho (História Natural), Heródoto (Histórias) e muitos outros.
As informações arqueológicas somadas com essas terceirizadas informações escritas são as fontes para entendermos esse momento interessantíssimo humano. Foi um momento marcado pela translucidez das influências entre populações dicotômicas. O momento proto-histórico é também associado ao surgimento da metalurgia, do cobre, depois do bronze e, finalmente, do ferro.
Para saber mais
VILAÇA, Raquel. Proto-História. In: Dicionário de Arqueologia Portuguesa. ALARCÃO, Jorge (coord.); BARROCA, Mário (coord.). Editora Figueirinhas, Porto. 2012. p.
CUNLIFE, Barry (2018). The Ancient Celts. Oxford University Press, Reino Unido. 2ª Edição. p. 486
Gostei muito do texto/explicação!!! Leitura de fácil compreensão e entendimento, mas o que seriam populações autóctones?
Olá Humberto. Populações autóctones são aquelas que habitavam uma região antes da colonização por outros povos