O texto abaixo foi encaminhado para publicação no Arqueologia e Pré-História pelo Dr. Pedro Totora da Glória, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH), Universidade de São Paulo. Este texto é um resumo do artigo de Pedro da Glória e Clark Larsen publicado na American Journal of Physical Anthropology, no último dia 22.
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O povoamento e origens dos primeiros americanos são temas de muita pesquisa e debates intensos na literatura científica. No entanto, poucos estudos têm utilizado restos humanos para documentar e interpretar os padrões de saúde e estilo de vida dos Paleoamericanos. Este estudo fornece a primeira investigação sobre saúde bucal em uma série de esqueletos humanos do Holoceno Inicial de Lagoa Santa, Brasil central, uma localidade que contém o restos mortais de alguns dos primeiros habitantes da América do Sul (10.000-7.000 anos AP).
A amostra é composta de 949 dentes e 1.925 alvéolos de cerca de 113 indivíduos, escavados em 17 sítios arqueológicos localizados no estado de Minas Gerais. Nós comparamos cáries e abscessos em Lagoa Santa com um banco de dados de esqueletos humanos de todo o continente americano, usando métodos de cálculo tanto por individuo como por dente/alvéolo. Além disso, a perda de dentes antemortem e o desgaste dentário foram analisadas em Lagoa Santa por sexo e idade. A expectativa é de que os habitantes de Lagoa Santa tenham boa saúde bucal, uma vez que esse é o traço normalmente visto em populações caçadoras-coletoras.
Os resultados mostram que a prevalência de cáries e abscessos em Lagoa Santa é significativamente maior do que a observada entre os outros caçadores-coletores incluídos no banco de dados analisado, exceto quando a prevalência abscesso é considerada usando indivíduo como unidade de análise. As mulheres adultas têm menos desgaste dentário e maior prevalência de cáries e perda de dentes antemortem do que os homens adultos. Estes resultados apontam para uma inesperada saúde bucal ruim em Lagoa Santa, especialmente entre mulheres. Uma dieta baseada na combinação de tubérculos e frutas silvestres altamente cariogênicas é sugerida como uma explicação para essa taxa elevada de patologias bucais. Esses resultados parecem estar ligados a uma adaptação a um ambiente tropical com alta disponibilidade de carboidratos.
Acesso ao artigo completo: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.22467/abstract