Texto de Micaela Jemison
Acreditava-se que muitas características únicas para os seres humanos teriam surgido no gênero Homo entre 2,4 e 1,8 milhões de anos atrás (Ma) na África. Embora os cientistas tenham reconhecido essas características ao longo de décadas, eles estão reconsiderando os verdadeiros fatores evolutivos que as originaram.
Um cérebro grande, pernas longas, a capacidade de criar ferramentas e períodos prolongados de maturação eram aspectos que acreditava-se terem evoluído juntos no início da linhagem Homo enquanto as pradarias africanas se expandiam e o clima da Terra tornava-se mais frio e seco. No entanto, o novo clima e e as evidências fósseis analisadas por uma equipe de pesquisadores, incluindo o paleontólogo Richard Potts (Smithosnian), a professora de antropologia Susan Anton (Universidade de Nova York), e Leslie Aiello (presidente da Fundação Wenner-Gren de Pesquisa Antropológica), sugerem que esses traços não surgiram como um único pacote. Em vez disso, vários ingredientes-chave, que acreditava-se terem definido o Homo, evoluíram em anteriores ancestrais Australopithecus entre 3 e 4 Ma, enquanto outros surgiram significativamente mais tarde.
Uma Abordagem Inovadora
A pesquisa da equipe tem uma abordagem inovadora para a integração de dados paleoclimáticas, novos fósseis e entendimentos do gênero Homo, vestígios arqueológicos e estudos biológicos de uma grande variedade de mamíferos (incluindo os humanos). A síntese desses dados levou a equipe a concluir que a capacidade dos primeiros humanos para se ajustar às novas condições, em última análise, permitiu que as primeiros espécies do gênero Homo variassem, sobrevivessem e começassem a se espalhar da África para a Eurásia há 1.85 Ma. Informações adicionais sobre este estudo foram publicadas hoje na revista Science.
Um Novo Quadro Climático
Potts desenvolveu um novo quadro climático para a evolução humana do Leste Africano, que retrata a maior parte da era, dese 2.5 até 1.5 Ma como um momento de forte instabilidade climática e mudando de intensidade de estações secas e úmidas anuais. Este quadro, que é baseado em ciclos astronômicos da Terra, fornece a base para algumas das principais conclusões do estudo, e sugere que várias espécies coexistentes de Homo que se sobrepunham geograficamente surgiram em ambientes e constante alteração.
“Condições climáticas instáveis favoreceram a evolução das raízes da flexibilidade humana em nossos ancestrais“, disse Potts, curador de antropologia e diretor do Programa de Origens Humanas do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian. “A narrativa da evolução humana que surge a partir de nossas análises salienta a importância da capacidade de adaptação a ambientes em mudança, em vez de adaptação a qualquer ambiente, o sucesso inicial do gênero Homo.“
Evidência Fóssil
A equipe revisou todo o corpo de evidências fósseis relevantes para a origem do Homo para entender melhor como o gênero humano evoluiu. Por exemplo, cinco crânios de cerca de 1,8 Ma provenientes do sítio arqueológico de Dmanisi, na República da Geórgia, mostram variações nas características tipicamente vistas no Homo erectus africano, mas diferem de definição de características de outras antigas espécies de Homo conhecidas apenas na África. Esqueletos recentemente descobertos de Australopithecus sediba (cerca de 1,98 Ma) em Malapa, África do Sul, também incluem algumas características do tipo Homo em seus dentes e mãos, mas também exibem características únicas, não-Homo em seu crânio e pés. A comparação desses fósseis com o rico registro fóssil da África Oriental indica que a diversificação inicial do gênero Homo foi um período de experimentação morfológica. Várias espécies de Homo viveram ao mesmo tempo.
“Nós podemos identificar a espécie com base em diferenças na forma de seus crânios, especialmente a sua face e mandíbula, mas não com base no tamanho“, disse Antón. “As diferenças entre os crânios sugerem que os primeiros Homo dividiram o meio ambiente, cada um utilizando uma estratégia ligeiramente diferente para sobreviver.”
Apesar de todas as espécies Homo apresentarem sobreposição no tamanho do corpo, cérebro e dentes, eles também tinham cérebros maiores e corpos maiores do que os seus prováveis antepassados, os Australopithecus. De acordo com o estudo, estas diferenças e semelhanças mostram que o pacote de traços humanos evoluiu separadamente e em diferentes momentos no passado, e não todo o pacote ao mesmo tempo.
Além de estudar os dados fósseis e o clima, a equipe também analisou evidências de instrumentos de pedra lascada, os isótopos encontrados nos dentes e marcas de corte em ossos de animais encontrados na África Oriental.
Uma Dieta Flexível
“Tomados em conjunto, estes dados sugerem que as espécies de Homo eram mais flexíveis em suas escolhas alimentares do que outras espécies“, disse Aiello. “Suas dieta flexível – provavelmente contendo carne – foi auxiliada pelo forrageio com ajuda de instrumentos de pedra e permitiu que nossos antepassados para explorar uma gama de recursos.”
A equipe concluiu que essa flexibilidade provavelmente reforçou a capacidade dos nossos ancestrais humanos a se adaptar com sucesso a ambientes instáveis e dispersar da África. Esta flexibilidade continua a ser uma marca da biologia humana hoje, e que em última análise, está na base da capacidade de ocupar diversos habitats em todo o mundo. Pesquisas futuras sobre novos fósseis e achados arqueológicos precisam se concentrar na identificação de características adaptativas específicas que se originaram com os primeiros Homo, o que trará uma compreensão mais profunda da evolução humana.
FONTE: Smithsonian/Past Horyzons
Artigo publicado na revista Science: Evolution of early Homo: An integrated biological perspective
Vídeo de Potts comentando o ambiente em que viveram os Homo: