Por: Paula Heloísa Santana Resende
Existem diversas definições para o termo biomecânica, Nigg em 1994 definiu como sendo a ciência que estuda as forças internas e externas que atuam sobre uma estrutura biológica e os efeitos produzidos por estas forças. Na paleontologia, trabalhamos com indivíduos extintos, a biomecânica é uma ferramenta importante para nos auxiliar a inferir características não preservadas no registro fóssil, como supor como os indivíduos mastigavam e se locomoviam, por exemplo. A biomecânica é um método de estudo indireto não destrutivo, que têm se tornado mais frequente devido ao surgimento da biomecânica virtual, que inclui análises de imagens tridimensionais de tecidos mineralizados, assim como a simulação e técnicas de modelagem virtual.
Existem várias técnicas dentro da biomecânica, dentre elas destaca-se a Análise de Elementos Finitos, uma técnica criada pela engenharia, em 1940. Utiliza-se a técnica juntamente com uma representação digital da estrutura de interesse, geralmente um modelo tridimensional, onde se atribui propriedades elásticas como o Coeficiente de Poisson (valor absoluto da relação entre as deformações transversais e longitudinais em um eixo de tração axial), o Módulo de elasticidade de Young (inclinação da porção linear do diagrama de tensão/deformação do material), e as tensões de Von Mises (média das tensões em todas as direções) no objeto a ser estudado, por exemplo: se deseja saber como determinado indivíduo se locomovia, primeiramente se reconstrói os músculos envolvidos na locomoção em um modelo tridimensional e posteriormente, aplica-se o método de elementos finitos, para inferir qual músculo se deslocou mais ou menos, através da interpretação de uma escala de cores, em que cada tonalidade corresponde a uma quantidade de deslocamento ou tensão gerada nas estruturas. Assim, é possível observar qual região muscular se deslocou mais e como as tensões se distribuem sobre as estruturas.
Para saber mais sobre o assunto:
BRIGHT, J. A review of paleontological finite element models and their validity. Journal of Paleontology. v. 8, p.760-769, 2014.
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