Paleohistologia

Por: Paula Heloísa Santana Resende e Joseane Salau Ferraz

A Paleohistologia trata-se de um ramo da paleontologia que nos auxilia  a compreender o comportamento dos seres extintos, através da utilização de cortes histológicos. Por meio dessas análises, é possível resgatar informações sobre o crescimento, fisiologia, ontogenia, filogenia e até mesmo possíveis patologias. Esse estudo é mais comum em animais, mas não são raros estudos com vegetais, principalmente com os tecidos vasculares que realizam o transporte de seiva. Análises histológicas em vegetais fósseis (fitofósseis) são cruciais para o entendimento da anatomia, taxonomia de espécies do passado e modificações que sofreram ao longo do tempo. Analisando estruturas presentes nas folhas dos fitofósseis (como por exemplo, os estômatos) é possível resgatar informações sobre o clima, a temperatura, incidência de sol e chuva do período em que os vegetais estavam presentes no ambiente.

Imagem: exemplo de análise microscópica de varredura em plantas fósseis. A) fóssil Brachyphyllum obesum (gimnosperma), a área analisada sob o microscópio eletrônico de varredura se encontra dentro do quadrante amarelo e B) fotomicrografia do ramo do fóssil, as setas amarelas indicam os estômatos planta preservados. Fonte: Sayão & Bantim, 2015.

Reconstrução de Brachyphyllum obesum. Ilustração de Ariel Milani Martine.

O estudo histológico foi difundido com a invenção dos microscópios, em 1673, além do desenvolvimento de metodologias que permitiram o preparo de tecidos, que auxiliou os cientistas da época a realizarem cortes em plantas e animais e observá-los em lâminas. Apesar da técnica já ser conhecida na biologia, o primeiro corte histológico em fóssil só ocorreu em 1831, em uma madeira do Carbonífero da Escóssia.

Imagem: exemplo de histologia óssea no fêmur de um bovídeo do Plioceno. Fonte: Köhler & Moyà-Solà, 2009.

Apesar de todos os processos tafonômicos que o fóssil “sofre”, sabemos que estruturas ósseas se preservam, sendo assim, é possível que a estrutura histológica óssea esteja preservada. Mas então, como é realizado um corte histológico em um animal fóssil?

  1. Primeiramente retira-se um pedaço do osso, com auxílio de uma serra diamantada; 
  2. Esse pedaço é envolvido em resina transparente e colado numa lâmina de vidro;
  3. Depois, a lâmina é submetida a desgaste em um equipamento chamado politriz, a qual lixas de granulometrias variadas desgastam a resina, até que esteja fina o suficiente para ir para o microscópio. 

Para saber mais sobre o assunto:

ASAKURA, Y. Paleohistologia comparada em osteodermos de Panochthus sp. Burmeister, 1866 e Neuryurus sp. Ameghino, 1899 (Xenarthra, Glyptodontoidea). Dissertação de mestrado em Geociências, Universidade Federal do Pernambuco, Recife, 2015.

ASAKURA, Y & OLIVEIRA, É. A Histologia como uma ferramenta no estudo dos fósseis: considerações sobre a paleohistologia em mamíferos com carapaça óssea. Estudos geológicos, v.29, n.1. p. 196-210, 2020.

KÖHLER, M & MOYÀ-SOLÀ, S. Physiological and life history strategies of a fossil large mammal in a resource-limited environment. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v.106, n. 48, p. 20354–58, 2009.

LAMM, E.T. Paleohistology widens the field of view in Paleontology. Microscopy and Microanalysis, v.13, p.50-51, 2007.

SANCHEZ, S.; AHLBERG, P.E.; TRINAJSTIC, K.M.; MIRONE, A.; TAFFOREAU, P. Three-Dimensional Synchrotron Virtual Paleohistology: A new insight into the world of fóssil bone microstructures. Mycroscopy and Microanalysis, Mycroscopy Society of America 18:1095–1105, 2012.

SAYÃO, J.M & BANTIM, R.A.M. A paleontologia no século XXI: novas técnicas e interpretações. Ciência e cultura,v.67,n.4,p.45-49,2015.