Arqueologia da Repressão e Resistência

Por: Denise Neves Batista Costa

A arqueologia da repressão e resistência tem por objetivo estudar o passado em contextos de violência e conflitos. Essa definição foi utilizada com a finalidade de desenvolver uma Arqueologia política que tivesse como foco o estudo dos processos de violência política na América Latina, entre as décadas de 1960 e 1980.¹ A arqueologia da repressão e resistência trata de estratégias repressoras aplicadas pelos grupos dominantes em questão, e as práticas de resistência exercidas pelos indivíduos que passaram por tais situações, visto que também são atores dentro da sociedade e desenvolvem meios para “resistir” ao que é imposto.

Tradicionalmente, os conflitos têm sido interpretados de acordo com a lógica dos grupos sociais dominantes. A arqueologia, até meados da década de 1960, se direcionava também a analisar os fatos históricos pelo viés das ideologias conservadoras. O processo de transformação dos estudos arqueológicos e a mudança de foco – do ponto de vista dos grupos dominantes a uma arqueologia focada no discurso das minorias e das “outras histórias” foi gradual. A arqueologia da repressão e da resistência é um campo com grande potencial para a construção de um passado recente. A materialidade acessada em tempo presente possibilita a construção de discursos, e pode ser vista como ferramenta para a construção de sujeitos e subjetividades.²

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Escavação arqueológica no Club Atlético – Centro clandestino de detenção na Argentina. Fonte:  https://www.argentina.gob.ar

No contexto das ditaduras, a arqueologia aparece como uma forma de contar as histórias dos grupos e indivíduos que sofreram nas mãos dos regimes; já que documentação e registros oficiais a respeito dos centros de tortura e dos mortos nesse período são praticamente inexistentes. No caso dos “desaparecidos” – aqueles levados clandestinamente a locais destinados a tortura e assassinato – a arqueologia tem um papel ainda mais incisivo: o de recuperar as histórias e identificar onde essas pessoas estiveram, o que sofreram, onde (e se) estão enterradas; tirá-las do “desaparecimento”.

Para saber mais:

  • Arqueologia da repressão e da resistência na América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960/1980). Org.: Funari, P., Zarankin, A., Reis, J. A. 2008.
  • BARRETA, Jocyane R. Arqueologia da Repressão e da Resistência e suas contribuições na construção de memórias. In: Revista de Arqueologia Pública. 2014.
  • Gonzalo Compañy; GONZÁLEZ, Gabriela; OVANDO, Leonardo and ROSSETTO, David. A political archaeology of Latin America’s recent past: A bridge towards our history. In: MYERS, Adrian and MOSHENSKA, Gabriel. Archaeologies of Internment. Springer.
  • SALERNO, Melissa A. e ZARANKIN, Andrés. “Todo está guardado en la memoria.”. Reflexiones sobre los espacios para la memoria de la dictadura en Buenos Aires (Argentina). In: Historias desaparecidas: arqueología, memoria y violencia política. Comp. Zarankin, A., Salerno, M., e Perosino M. Facultad de Humanidades de Catamarca, 2010.