por Geraldo PMJ
Arqueologia Histórica é mais comumente entendida no continente americano como sendo a subárea da disciplina que têm como foco estudar o processo dos impactos que as sociedades tiveram com a expansão europeia (colonialismo) nas grandes navegações e que coincide com a formação e expansão do sistema capitalista no mundo. Esta abordagem surgiu na década de 1980 quando o foco das pesquisas arqueológicas mudou para a recuperação de passados e identidades de grupos subalternos que foram marginalizados e/ou silenciados nos registros escritos (como por exemplo os escravizados, as vítimas das repressões das ditaduras, indígenas, etc). Essa mudança nos focos de pesquisa incentivaram arqueólogos a refletir o antigo conceito de arqueologia histórica gerando este conceito que é a compreensão de Arqueologia Histórica como Arqueologia do Mundo Moderno. Arqueólogos que seguem essa abordagem buscam explorar como o mundo moderno foi produzido usando os vestígios materiais para pesquisar de forma crítica os efeitos do colonialismo e da expansão do capitalismo nas sociedades³.
Mas ainda hoje o termo é compreendido de diferentes formas por arqueólogos. Podemos identificar semelhanças entre várias definições e coloca-las dentro de três conjuntos. A principal diferença entre esses conjuntos se dá pelo fato de uma se referir ao método empregado no estudo, outra por uma demarcação no tempo e, por fim, uma terceira marcada por um processo global (que é a definição já explicitada).

Arqueologia Histórica nos faz pensar primeiramente na conjunção de arqueologia com história. De fato, alguns arqueólogos definem a arqueologia histórica pela presença de documentos escritos na sociedade a ser investigada de forma que os estudos são feitos a partir da junção dos dados arqueológicos com os dados históricos. Este conceito dado a partir do método (da agregação dos registros escritos aos vestígios arqueológicos no estudo) foi bastante criticado por alguns pesquisadores. Alguns observam que rejeitar modelos de sociedades não ocidentais ou não alfabetizadas como sendo “sem história” é fruto de um imperativo político. Outras críticas partem de uma visão mais arqueológica, dizendo que embora a presença de documentos oferecem oportunidades únicas na análise arqueológica, as fontes escritas são simplesmente outra forma de cultura material. ¹ Um outro problema com essa definição é a de que aqueles que estudam os períodos para os quais os documentos existem, particularmente aqueles fora das Américas, não se referem a si mesmos como “arqueólogos históricos”. Em vez disso, eles rotulam seu trabalho ou pelo período geral, como Arqueologia Romana ou Pós-medieval, ou por foco regional, como egiptologia ou estudos de gregos clássicos.²

Outros arqueólogos definem a Arqueologia Histórica como o campo da arqueologia que estuda a expansão colonial europeia e subsequentes povos pós-colombianos. A data de 1500 DC seria o demarcador de onde a arqueologia começaria a ser histórica. Principalmente na América do Norte, com a criação da Sociedade de Arqueologia Histórica nos Estados Unidos na década de 1960 o rótulo “Arqueologia Histórica” vem demarcar o estudo de as sociedades coloniais pós-colombianas e alfabetizadas, distintas do estudo dos indígenas pré-contato.²
Você pode saber mais sobre o assunto assistindo a entrevista que fizemos com o professor de arqueologia da UFMG Luís Cláudio Symanski sobre o assunto:
Referências Bibliográficas/ indicações de leitura:
- HICKS, Dan & BEAUDRY, Mary C. Introduction: the place of historical archaeology. In: The Cambridge Companion to Historical Archaeology. 2006
- HALL, Martin & SILLIMAN, Stephen W. Introduction: Archaeology of the Modern World. In: Historical Archaeology. 2006
- KING, Rachel Primary Historical Sources in Archaeology: Methods. In: Oxford Research Encyclopedia of African History. 2017
- ORSER JR., Charles E. Introdução à arqueologia histórica. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992.