Autora: Maritza Dode
Há quem diga que fazer Arqueologia Urbana é fácil. Estando em uma cidade, não existe aquela necessidade de grandes deslocamentos da equipe e de equipamentos, de acampar no meio do mato, de caminhadas sem fim. É muito mais tranquilo! Temos que lidar apenas com: a curiosidade sem fim do público, o tráfego incessante de veículos e pessoas, o sol refletindo no asfalto, a precariedade da infraestrutura pública (escassez de sanitários). Uma brisa reconfortante pode se tornar sua pior inimiga, ela leva facilmente uma pilha de folhas (seu trabalho de dias). E não, você não está em campo aberto para correr atrás delas.
Selva de pedra! Mas há aquelxs arqueólogxs interessadxs a voltar suas pesquisas para as cidades, seja através de escavações e/ou de levantamentos que registram as feições, atributos e distribuições espaciais de ruas, praças, prédios, monumentos e demais construções existentes.
Segundo o arqueólogo americano Edward Staski, a Arqueologia Urbana pode ser definida como:
“O estudo das relações entre cultura material, comportamento humano e cognição num assentamento urbano”.
(Edward Staski, 1982:97)
Antes de ser entendida como o emprego de técnicas arqueológicas na cidade, podemos pensar a Arqueologia Urbana como uma Arqueologia da Cidade, onde o arqueólogo questiona-se justamente sobre os processos de urbanização e suas consequências na vida em sociedade. Nenhum local ou vestígio pode ser pensado isoladamente.
Este tipo de Arqueologia é capaz de trazer à tona indícios da complexidade de construção de uma cidade, onde diferentes etnias, grupos socioeconômicos, políticos e religiosos, onde diferentes ideias e ideais conviveram ao longo do tempo. É, assim, capaz de despertar nos indivíduos que habitam a cidade uma reapropriação de sua própria história e de seu patrimônio, proporcionando uma nova relação com espaços cotidianos.
Maritza Dode é Bacharela em arqueologia pela Fundação Universitária Rio Grande (FURG). Possui experiência em Arqueologia Urbana e atualmente cursa o mestrado em Arqueologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para saber mais sobre o assunto:
- CRESSEY, Pamela & STEPHENS, John. The city-site. Approach to urban archaeology. In DICKENS, Roy (Ed.). Archaeology of Urban America. The search for Pattern and Process. New York/London: Academic Press, 1982. Pp. 41-61.
- LIMA, Tania Andrade et. al. Arqueología Urbana: antídoto contra amnesias sociales. In: BARCIA e CHIAVAZZA (Ed). XVII Congreso Nacional de Arqueologia Argentina. Mendonza, tomo III, 2010. Pp. 999-1004.
- STASKI, Edward. Advances in Urban Archaeology. IN: SCHIFFER, Michael B. (Ed.) Advances in Archaeological Method and Theory. New York/London: Academic Press, 1982. Pp. 97-149
- UPTON, Dell. The city as material culture. In: YENTSCH, A. & BEAUDRY, M. (Ed.). The art and mistery of Historical Archaeology: essays min honor of James Deetz. Florida: Boca Raton, 1992. Pp. 51-74
- THIESEN, Beatriz & TOCCHETTO, Fernanda. A memória fora de nós: a preservação do patrimônio arqueológico em áreas urbanas. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 175-199, 2007.