por JuCa
Os estudos líticos são uma série de estudos científicos realizados a partir da aplicação de abordagens multidisciplinares sobre vestígios de pedra lascada e polida. São estudos que buscam entender como os artefatos de pedra lascada eram produzidos e utilizados por grupos humanos.
Dentre as principais abordagens estão:
- A Tecnologia Lítica – que busca entender os métodos e técnicas de produção e utilização dos artefatos a partir da observação de uma série de características específicas presentes nos artefatos (acabados ou inacabados) e dos resíduos de produção, além de mensurações e realização de desenhos e esquemas técnicos.
- A Traceologia Lítica – que busca entender a funcionalidade e o funcionamento dos artefatos a partir da análise das marcas de utilização nos gumes e nas áreas de encabamento dos artefatos.
- A Análise Microrresidual – que busca entender a funcionalidade e o funcionamento dos artefatos a partir da identificação de microrresíduos orgânicos (ex: sangue, amidos, fitólitos, etc). No caso dos líticos, estes microrresíduos estão geralmente preservados nos gumes e nas áreas de encabamento dos artefatos.
- A Arqueologia Experimental – que busca testar as hipóteses sobre quais métodos e técnicas de produção e utilização foram utilizadas para realizar determinadas atividades. No caso dos líticos, esta abordagem é realizada a partir da replicação dos artefatos através dos mesmos materiais, métodos e técnicas identificadas nas análise tecnológica; e na sua utilização nos mesmos materiais identificados nas análises traceológicas e microrresiduais.
- A Morfometria Geométrica – que busca entender os padrões estilísticos dos artefatos a partir da observação das formas e mensuração sistemática dos artefatos acabados.
Os estudos líticos estão entre os estudos mais importantes e mais realizados na arqueologia, uma vez que os vestígios de pedra lascada e polida correspondem a mais de 95% dos vestígios encontrados em sítios arqueológicos, dada sua excelente capacidade de preservação ao longo do tempo e por ser, na maioria dos sítios arqueológicos conhecidos, o único registro de atividades humanas (e hominíneas) realizadas ao longo de 3,5 milhões de anos.
João Carlos Moreno de Sousa é arqueólogo formado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO) e mestre em arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP). Possui experiência com estudos de tecnologia lítica, arqueologia experimental e arqueologia cognitiva. Atualmente cursa doutorado em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ) e administra o site “Arqueologia e Pré-História”.
Para saber mais sobre o assunto:
ANDREFSKY, William. 2005. Lithics: Macroscopic Approaches to Analysis. Cambridge University Press.
CRABTREE, Don E. (1972) An introduction to flint working. Pocatello: Occasional Papers of the Idaho State University.
INIZAN, M-L.; REDURON-BALLINGER, M.; ROCHE, H. TIXIER, J. 2017. Tecnologia da Pedra Lascada (Edição brasileira). UFMG.
PROUS, André & FOGAÇA, Emilio. O Estudo dos Instrumentos de Pedra. Fabricação, Utilização e Transformação dos Artefatos. Teresina: Alínea.