Zooarqueologia

Autora: Gabriela Mingatos

Dentro da arqueologia temos uma área de pesquisa que se ocupa da identificação e interpretação de restos faunísticos (restos de animais). Esse campo de estudo se chama Zooarqueologia ou Arqueologia dos Animais.

A zooarqueologia é responsável pelo estudo dos remanescentes faunísticos presentes nos sítios arqueológicos. Zooarqueólogo(a)s são os/as responsáveis pela análise, identificação e interpretação desses remanescentes no contexto arqueológico.

dog skeleton at Broad Reach site
Sepultamento de um cachorro encontrado no sítio conchífero  Broad Reach no litoral dos Estados Unidos, datado entre 1,500 e 200 anos atrás. Foto: TRC Companies, Inc.

Podemos encontrar na literatura os termos: Arqueozoologia e Zooarqueologia, trata-se de diferenciações que historicamente, marcavam diferenças e graus de influência da antropologia e biologia nos estudos dos remanescentes ósseos, por exemplo, o termo arqueozoologia marcava um interesse na fauna, mais do que na relação dessa fauna com populações humanas, assim como o termo zooarqueologia que priorizava muito mais a relação da fauna com os humanos.  Hoje, apesar dessa diferenciação, esses termos acabam se misturando e por fim significando a mesma coisa.

Na zooarqueologia, o zooarqueólogo tenta compreender as relações estabelecidas entre os animais e as populações humanas que viveram no passado. É comum o zooarqueólogo se deparar com uma grande quantidade de ossos em seu trabalho, pois é um vestígio arqueofaunistico que se preserva. Contudo, não só de ossos é feita a zooarqueologia.

Se inserem no campo de estudo zooarqueológico: Restos de moluscos (nesse caso, como dificilmente o tecido mole se conserva, o que resta para os arqueólogos são as conchas), insetos, exoesqueletos, ovos de parasitas, corpos congelados, ossos, restos de pele e pelo e coprólitos (fezes).

Dentre as principais informações produzidas pela zooarqueologia podemos citar:

  • Informações paleoambientais/paleoclimáticas: a presença ou ausência de determinados animais sensíveis a mudanças climáticas podem ser indicadores de alterações no clima.
  • Bioestratigrafia:pode guiar o arqueólogo numa datação relativa (uma forma de situar o material arqueológico no tempo sem datação com C14, por exemplo, usando apenas informações estratigráficas) em que a presença de determinado repertório faunístico é comum e recorrente em determinados níveis e períodos arqueológicos.
  • Dieta:em contexto arqueológico, o material zooarqueológico pode indicar as opções alimentares feitas pelos grupos humanos, preferências alimentares podem ser observadas a partir da presença e ausência de determinados animais no contexto arqueológico, sempre levando em consideração, é claro, os aspectos tafonomicos que afetam as condições de preservação do material faunístico naquele contexto.
  • Tafonomia: indica acontecimentos posteriores a morte e/ou ao soterramento dos ossos dos animais (queima, abrasão, quebra, etc) mostrando atividades humanas e propositais (preparo de alimento e artefatos) assim como não humanas (pisoteamento por outros animais e mesmo a abrasão dos ossos pela ação do sedimento), a tafonomia é suma importância para entender também o por que determinados ossos se conservam e outros não, já que a densidade óssea mostra que ossos mais robustos tendem a se conservar melhor do que ossos mais finos e menores, assim como dentes que devido a sua composição também tendem a se conservar com mais facilidade do que outras partes anatômicas dos animais.
  • Aspectos simbólicos: As pinturas rupestres são exemplo da importância da fauna na pré-história, assim como os artefatos feitos em ossos que são muitas vezes encontrados em enterramentos mostrando um uso simbólico dos animais.

Gabriela Mingatos é bacharela em Historia pela Uninove; bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); e Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional (UFRJ). Possui experiência de pesquisa em pinturas rupestres e zooarqueologia. Atualmente é aluna de doutorado em arqueologia no Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para saber mais sobre o assunto:

  • Bicho Nuno F. (2011) Manual de arqueologia pré histórica, Capítulo sobre Zooarqueologia. edições 70.
  • De Grossi Mazzorin J. (2008), Archeozoologia. Lo studio dei resti animali in archeologia, Laterza, Bari.
  • Lyman, R. Lee. (1996) Applied zooarchaeology: The relevance of faunal analysis to wildlife management. WORLD ARCHAEOLOGY,  28 (1). 110-125.
  • Thomas, Kenneth D. (1996) Zooarchaeology: Past, present and future. WORLD ARCHAEOLOGY,  28 (1). 01-04.
  • Reitz E. & Wing E. (2008) Zooarchaeology. Cambridge Manuals in Archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.