Por Daniela Ortega
Os arqueólogos João Carlos Moreno de Sousa e Astolfo Gomes de Mello Araujo lançaram um artigo, em outubro de 2018 na revista científica internacional PaleoAmerica, em que apresentam uma nova proposta de definição para a indústria lítica da região de Lagoa Santa (Minas Gerais), que existiu entre 13 mil e 1 mil anos atrás. O estudo revisa sobre a tecnologia lítica de alguns sítios arqueológicos da região (Lapa do Santo, Lapa das Boleiras e Lapa Grande de Taquaraçu, Coqueirinho e Sumidouro) e apresenta novos dados sobre os vestígios de pedra lascada da região, incluindo a análise inédita das lâminas de machado polido mais antigas já registradas até então no continente americano.
A região de Lagoa Santa é pesquisada desde o século XIX devido aos achados arqueológicos e paleontológicos preservados. A partir da segunda metade do século XX iniciam escavações científicas e criteriosas na região. Entre os anos 2000 e 2009 a região é pesquisada no âmbito do projeto de Walter Neves e desde 2011 André Strauss coordena escavações e pesquisas apenas na Lapa do Santo.
A indústria lítica de Lagoa Santa é estudada desde a década de 1970. Os primeiros pesquisadores a definiram como uma indústria “simples”. Já era notado que a região não apresentava artefatos comuns em outras regiões, como pontas de flechas ou lanças e os raspadores conhecidos como “lesmas”, muito comuns no cerrado brasileiro.
Análises posteriores foram realizadas por diferentes pesquisadores que definiram esta indústria lítica como simples e generalizada sem padrão nos métodos de obtenção das ferramentas, enquanto outros pesquisadores defendiam que ela era mais complexa e especializada. Com o aprofundamento dos estudos, se problematizou a necessidade de uma nova definição consistente dessa indústria lítica.
É exatamente essa a proposta do artigo de Moreno de Sousa & Araujo, uma vez que busca esclarecer questões sobre a definição da indústria lítica de Lagoa Santa. Por exemplo, o que pode ser considerado simples ou complexo em uma indústria lítica e a relação entre Lagoa Santa e outras indústrias paleoíndias brasileiras, como a Tradição Itaparica, que existiu entre 13 e 7 mil anos atrás, e a Tradição Umbu, que teria existido desde 13 mil anos atrás até pouco antes do contato com os europeus.
Na discussão do artigo, os autores descartam hipóteses existentes e trazem soluções a muitas problemáticas que envolvem a escolha quase exclusiva do quartzo hialino em cristal, uma matéria prima com volume e estrutura limitantes às técnicas aplicadas. Da mesma forma, parece haver uma persistência dos métodos e técnicas de lascamento, porque nos períodos mais antigos de ocupação nos sítios mesmo o jeito de lascar o cristal também era aplicado a outro tipo de rocha, o sílex.
Dessa maneira, a indústria lítica de Lagoa Santa não seria “simples” nem “complexa, mas uma forma estável e eficaz de lidar com a matéria prima de preferência. De certa forma, segundo os autores, se considerarmos como critério o número de passos que se tem que fazer para chegar ao produto final (uma lasca com gume cortante), em comparação com demais indústrias líticas no continente americano, a de Lagoa Santa pode ser considerada simples. Mas isso não quer dizer que tenha sido feita de qualquer jeito, mas uma produção com padrão sistemático e estruturado não é necessariamente complexa (o que envolveria muitas etapas de produção).
Os autores propõem uma definição consistente para o que vieram a definir como indústria Lagoassantense: “uma indústria microlítica baseada no lascamento de quartzo e sílex e aplicação eventual de técnicas de polimento, incluindo a produção de lâminas polidas, que persistem durante o Holoceno Inicial até o Tardio“. E apresentam os métodos identificados de retirada de lascas a partir de cristais, denominados de método de fatiagem e método de planos-opostos.
O artigo completo está disponível no link a seguir:
MORENO DE SOUSA, João Carlos & ARAUJO, Astolfo Gomes de Mello. 2018. Microliths and Polished Stone Tools during the Pleistocene-Holocene Transition and Early Holocene in South America: The Lagoa Santa Lithic Industry, PaleoAmerica, 4 (3): 219-238. DOI:10.1080/20555563.2018.1531350
Os autores fornecem cópias de seus artigos gratuitamente em seus perfis das rede sociais acadêmicas. Clique nos links para conferir: Moreno de Sousa (Academia e ResearchGate), Araujo (Academia e ResearchGate)
Tenho aulas pesa de pedra como machado de derrubar árvores e de Gerra de caça e uma espada de madeira com o cabo todo bordado com a próprio madeira e udencilio de cozinha eu acho que é ok fazer com essas raridades?
A espada tem 1.50 centímetros e foi achado no meio do rio com mais de três metros de argila por cima
Eu encontrei uma pedra polida provavelmente um machado pouco usado
Olá, Fabio. Poderemos te ajudar melhor se você enviar essas informações e algumas fotos dos objetos para nosso e-mail (arqueologiaeprehistoria@gmail.com)