Por Peter Eisner, Smithsonian magazine, Março de 2009
A busca persistente de Bingham pela lendária capital inca culminou em 24 de julho de 1911. Cansado de caminhar por horas, guiado por amigáveis agricultores locais, marchou para as montanhas, acompanhado por um guia local e um policial peruano até que “de repente nos encontramos no meio de um labirinto de selva coberta de pequenas e largas paredes”, escreveu ele em um relato publicado no Monthly Harper em abril de 1913.
“Após surpresas seguidas de outras, veio a percepção de que estávamos no meio de maravilhosas ruínas que ninguém jamais havia encontrado no Peru”, escreveu. Ele havia chegado em Machu Picchu (“pico velho” em Quechua). Embora existisse evidência de inscrição deixada por pastor de mula local, ele acrescentou: “É possível que nem mesmo os conquistadores espanhóis tenham visto este lugar maravilhoso.”
A crônica de Bingham lhe trouxe aclamação (“A maior descoberta arqueológica da época”, segundo o New York times), mas agora arqueólogos do Peru afirmam que ele não foi o primeiro estrangeiro a subir até as ruínas da cidade inca do século 15, como ele já deveria saber.
“A presença de vários exploradores alemães, britânicos e norte-americanos é reconhecida, e eles haviam também elaborado mapas“, diz Jorge Flores Ochoa, um antropólogo peruano. Bingham “tinha conhecimento mais acadêmico …. Mas ele não estava descrevendo um lugar que era desconhecido.”
Esta discussão não é nova. Por exemplo, em uma carta de 8 de setembro de 1916 ao Times, o engenheiro de minas alemão Carl Haenel disse ter acompanhado o explorador JM von Hassel até o lugar em 1910, embora não tenha apresentado nenhuma documentação de tal viagem. Mas mesmo Bingham admitiu que “parecia quase inconcebível que esta cidade, a apenas cinco dias de viagem de Cuzco, tenha permanecido desconhecia e não tenha sido descrita por tanto tempo.”
Richard L. Burger, professor de antropologia na Universidade de Yale, onde Bingham lecionou história latino-americana de 1907 a 1915, diz que é cético quanto às afirmações do Peru. Se outros realmente a visitaram, diz ele, ou foram para saquear ou não reconheceram a importância do sítio. Além disso, acrescenta, Bingham “nunca alegou ter sido a primeira pessoa moderna a ter posto os pés em Machu Picchu”. No Peru, algumas pessoas têm chamado Bingham de o “descobridor científico de Machu Picchu”, diz Burger. “Eu acho que isto é precisamente justo.”
Yale, por sua vez, está envolvida em uma disputa com o governo Peruano pelos artefatos e ossos que Bingham levou para casa. Em 2007, a universidade concordou em devolver a maioria deles em troca de manter alguns para futuras pesquisas. Em uma ação movida em dezembro passado em um tribunal federal, no entanto, o governo do Peru disse que a Universidade deve retornar toda a coleção.
Thomas Conroy, um porta-voz de Yale, disse que a universidade respeita os interesses do Peru. “Nós ainda temos o mesmo objetivo, buscar uma colaboração em curso que reflita o interesse do Peru no material e o interesse do resto do mundo”, diz Conroy. “E Yale acredita que tal acordo poderia servir como um modelo ou um exemplo de como conflitos [semelhantes] poderiam ser resolvidos.”
FONTE: Smithsonian