Texto de Márcia Jamille
Acredita-se que a ideia da concepção de uma pirâmide estava ligada ao conceito da criação do mundo a partir do Num, o elemento líquido de onde se acreditava ter ocorrido a criação, de acordo com a cosmogonia heliopolitana. Nela um montículo de terra teria emergido deste ambiente aquoso logo após a suspensão do deus solar Atum. Tal montículo seria representado através de vários elementos da arquitetura egípcia, entre eles as pirâmides.
A primeira pirâmide conhecida a ser edificada em solo egípcio foi a de Djozer, sob a supervisão do alto-funcionário Imhotep, que por seu feito foi cultuado séculos mais tarde ao seu falecimento como uma divindade.
A ideia de Imhotep era visualmente simples, mas mudaria a forma como os Faraós encarariam a morte, afinal, com o auge da construção de pirâmides durante o Antigo Império, este tipo de edificação era permitida somente ao soberano e membros seletos da sua corte, tais quais suas esposas.
A construção das pirâmides foi também um retrato da grande diferença social existente durante o Antigo Império em outro sentido: além de ter sido um empreendimento caro foi incluído a partir do reinado do Faraó Unas encantamentos para auxiliar o falecido em sua jornada no “Além-Vida”. Tais fórmulas eram permitidas somente aos Faraós, demonstrando aí outro distanciamento entre o indivíduo “comum” e o soberano, o qual, somente décadas antes, ganhou o título de “Filho de Rá” durante o reinado de Djedefra.
A mudança nas formas do edifício:
As pirâmides egípcias sofreram mudanças significativas em sua ideia estilística, estando algumas consideradas pela Egiptologia como as “divisoras de águas”. São elas:
(1) A Pirâmide Escalonada em Saqqara de Djozer

Foi construída durante a 3ª Dinastia (Antigo Império). Ela se compõe de uma sobreposição de seis “mastabas”, que nada mais são que estruturas quadrangulares.
(2) A pirâmide de Meidum de Senefru

Construída durante a 4ª Dinastia (Antigo Império), ela é um exemplo da tentativa e erro na arquitetura: é o primeiro edifício pensado no formato clássico das pirâmides egípcias (), porém sua estrutura exterior ruiu, ou foi derrubada, deixando exposto o seu núcleo.
(3) A Pirâmide Romboidal em Dashur de Senefru

É a segunda edificada para Senefru. Embora ela fosse segura, algo nela não agradou, uma vez que uma terceira pirâmide foi construída para o faraó. A sugestão é que o desagrado tenha se dado pela a forma do edifício, que ganhou um contorno curvado no seu topo em uma tentativa dos engenheiros em equilibrar o peso da estrutura.
(4) A Pirâmide Vermelha em Dashur de Senefru

Terceira e última pirâmide de Senefru foi a percussora do sexteto do Platô de Gizé – as pirâmides de Khufu, Kefrén, Menkaurá e das três rainhas -. Os blocos de calcário utilizados eram maiores e de melhor qualidade.
A desvalorização do uso de pirâmides:
Ainda que fossem o símbolo do poder divino dos Faraós, as pirâmides eram um chamariz para saqueadores de tumbas que se tornaram uma grande preocupação em especial entre o Médio e Novo Império. Desta forma, Ahmés I (18ª dinastia; Novo Império) foi o último governante nativo a edificar uma pirâmide, embora provavelmente ela não tenha sido utilizada. A partir dele os faraós tebanos mudaram o seu tipo de sepultamento para os hipogeus. Porém, entre os plebeus tornou-se comum a criação de uma pequena pirâmide sobre suas capelas funerárias, algumas das quais ainda são existentes.
Para saber mais:
DODSON, Aidan. As Pirâmides do Antigo Império (Tradução de Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Carlos Nougué). Barcelona: Folio, 2007.