Nota do JuCa: No Brasil também existem Geoglifos pré-históricos em áreas desmatadas da floresta amazônica, desde o Acre até Rondônia. Contudo, tratam-se de formas geométricas simples (como quadrados e círculos), cuja função permanece um mistério. Acesse a página do projeto Arqueologia em Ação, aqui mesmo no blog, e confira o Episódio 8, sobre os Geoglifos da Amazônia.
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Por Jorge Barreno, do ElMundo.es
Pode parecer que o deserto de Atacama é composto de pedras de aspecto marciano, de flores endêmicas que brotam uma vez a cada década e, de um ou outro guanaco perdido por aí. No entanto, o lugar mais seco do mundo tem um segredo muito antigo.
Grandes figuras humanas e de animais, formas geométricas, inundando algumas encostas no norte do Chile desde Antofagasta até Arica, na fronteira com o Peru. Estas representações gráficas gigantescas, chamadas geoglifos, encontradas em encostas de montanhas têm entre vinte e trinta metros de comprimento, embora seja de difícil observação do nível do solo.
Os geoglifos são definidos como manifestações de arte rupestre de povos pré-históricos, alguns deles antes do ano 1500 aC. Eles representam idéias sobre os recursos naturais, centros cerimoniais, locais de encontro, o tráfego comercial e rotas entre as aldeias. Ou seja, eram documentos que serviam aos habitantes do deserto para mostrar ao mundo em que viviam as gerações futuras.
Foram construídos de duas maneiras:
1 – Pela técnica de extração, que envolve a remoção do material de superfície que cobre as figuras desenhadas nas colinas desérticas. O material que é retirado destaca e transforma á área em clores mais claras, a dos geoglifos, o que contrasta com o fundo natural cinza escuro.
2 – A técnica de adição, por sua vez, consistia em adicionar ou acumular pedras cinzentas escuras, para definir a figura do geoglifos, em contraste com um fundo claro bem característico.
Houve também uma técnica mista que combina ambos os procedimentos.
Chile, o país com mais geoglifos
Para ver esses desenhos esquemáticos curiosos,em forma de vicunha geométrica ou homem do espaço, você tem que observá-los à distância ou a voo de pássaro. Este tipo de representação só existe em cinco países: Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, Peru e Chile, sendo este último o que tem a maior densidade de geoglifos no mundo e alguns dos mais antigos.
Embora os geoglifos sejam um tesouro patrimonial inestimável, que serve como uma importante fonte de conhecimento sobre as visões de mundo de diferentes culturas antigas, muitas associações chilenas e peruanas reclamam do profundo abandono que sofrem estes desenhos ancestrais.
A cada ano, a Associação dos Arqueólogos do Chile apresenta uma liminar contra o Rally Dakar para o alegado prejuízo a sítios arqueológicos. A última, a 8939-2013, foi apresentada na 7 ª Secção do Tribunal de Apelações de Santiago em 17 de junho de 2013.
A queixa visa impedir a conclusão do Rally Dakar 2014, em território chileno, como uma ameaça ao direito constitucional de viver em um ambiente livre de poluição, uma vez que, no Chile, o património cultural é parte da definição legal de meio ambiente.
“O formato da prova, onde os pilotos têm um diário de bordo com as direções, mas pode viajar para onde eles querem, difícil de proteger os sítios arqueológicos ou de valor histórico e cultural“, disse o advogado repetidamente Paola Gonzalez, vice-presidente do Colegio de Arqueólogos.
“Eles deixam um enxame de pegadas em áreas cristalinas como o Deserto de Atacama. Estamos cegos para a verdadeira magnitude da destruição“, acrescentou o defensor dos vestígios arqueológicos, que também critica os chilenos com seus carros passando por onde quiserem sem qualquer controle.
Os autores, entre os quais Paola Gonzalez, argumentam que a corrida tem causado grandes danos ao patrimônio arqueológico do norte do país durante as seis edições em que ela pôs os pés no Chile. Uma pesquisa realizada pelo Conselho de Monumentos Nacionais (CMN) em dezembro do ano passado, revelou que pelo menos 207 locais de interesse arqueológico e histórico, foram danificados na sequência do Dakar 2009-2012.
Os arqueólogos também criticam que a realização de sondagens por empresas de mineração para descoberta de novas jazidas não têm qualquer controle. Há algumas semanas o senador Carlos Cantero relatou o dano ao petroglifo na área de Monte Cristo, localizada na zona de Chug Chug, como resultado da instalação de postes. Na área existem cerca de 500 figuras.
Perigo em Nazca
As queixas são repetidas a poucos quilômetros ao norte, nas famosas linhas de Nazca do Peru, declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1994. Estes geoglifos, os mais conhecido do planeta, adotam formas de animais gigantes, com até 275 metros de comprimento.
Seus contornos descrevem dezenas de pássaros, de beija-flores a pelicanos e gruas. Mas também aparecem outras espécies: uma aranha, um lagarto, um macaco, e até mesmo o que alguns consideram um astronauta. Assim como no Chile, poucos meses atrás soaram os alarmes em Nazca.
A Direção Regional da Cultura encontrou “um dano irreparável“, realizado por uma empresa de extração de material de construção em um conjunto de linhas que tinham entre 60 e 120 metros de comprimento. O diretor do Instituto de Investigaciones Aeroarqueológicas Ojos de Cóndor, Eduardo Herran Gomez de la Torre, acusou o governo do Peru de não agir para impedir essas ações.
A empresa e as autoridades regionais inicialmente alegaram que o terreno onde ocorreu o dano eram de propriedade privada e, portanto, não poderia haver nenhuma intervenção pública. A pressão da população e de vária organizações fizeram o governo tomar medidas sobre o assunto.
FONTE: El Mundo