Novo método de catalogação de peças arqueológicas – QR Code e DataMatrix

Atualização: A Equipe do Centre d’Estudis del Patrimoni Arqueològic de la Prehistoria da Universitat Autònoma de Barcelona entrou em contato conosco por e-mail para divulgar o artigo publicado em 2011 sobre os código Data Matrix (matéria abaixo). Nos links a seguir você poder encontrar mais informações sobre o trabalho deles:

Link para o artigo no Journal of Cultural Heritage:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1296207410001020#

Site do CEPAP-UAB:
http://cepap.uab.cat/en/heritage_ICT_DMcodes

Vídeo publicado pelo CEPAP-UAB sobre os códigos DM:

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O Historiador e arqueólogo espanhol   escreveu em seu blog um texto sobre um novo método de catalogação (numeração) de peças arqueológicas. Com a chegada das modernas ferramentes digitais o código QR e o DataMAtrix parecem ser boas soluções para catalogar artefatos arqueológicos.

Exemplo de cerâmicas catalogadas com QR Code

Poucas pessoas, principalmente os mais jovens e que mais acompanham o lançamento de novas ferramentas digitais já devem conhecer e ter utilizado alguma vez o QR Code. O QR Code funciona de uma maneira mais ou menos simples: Trata-se de um quadradinho branco com alguns pontos pretos distribuídos de uma maneira específica. É um código que só pode ser identificado com um leitor de QR Code. Cada vez mais se encontra tablets e smartphones que já permitem ler QR Codes através de diversos aplicativos de download gratuito.

Quando seu aparelho “lê” o código ele te redireciona para uma página com as informações que o autor do código desejou – pode ser um link do facebook, um site da internet, uma tabela de informações etc. Basicamente qualquer coisa pode ser transformada num QR Code.

A idéia de catalogar peças com este código, ou com o DataMatrix (que é um tipo de código muito semelhante, porém aperfeiçoado) seria uma sugestão de aperfeiçoar a organização das peças na curadoria. Dentre as vantagens apontadas por Pablo, estão:

  • O abandono da numeração manual mediante a escrita – que é um método que afeta diretamente o artefato – o QR Code dispensa a impressão de qualquer tinta na peça ou esmalte. Dependendo da qualidade da numeração feita ela até desaparece ou não conseguimos ler o código que foi escrito. Acredito que todos os arqueólogos ou estudantes já tenham se deparado com alguma peça assim.
  • É uma técnica não invasiva – afinal, você pode fixar o QR Code como um adesivo mediante o uso de uma solução de polipropileno que pode ser, posteriormente, eliminada da peça sem causa nenhum dano físico caso seja necessário retirar o código.
  • Praticidade na coleta de informações da peça – imagine você, ao invés de procurar numa tabela do excel, ou numa planilha, informações sobre a peça de código “xx-000” e o tempo que você levará até encontrar.
siglado DM-glass-2
Exemplo básico de informações coletadas pelo Google Glass

Agora imagine você, com o uso de um leitor de QR Code ou DataMatrix (um tablet, smartphone, ou até mesmo um Google Glass) com apenas um clique sobre a peça você já obtém uma página com todas as informações da peça, como sua proveniência, datação, pesquisadores que coletaram a peça, pesquisadores que analisaram a peça anteriormente, etc. Tudo isso em menos de um segundo. Se você fizer isso com um Google Glass você olha para a peça em suas mãos enquanto a lente do seu óculos já te mostra todas as informações instantaneamente.

Exemplo de peças líticas catalogadas com códigos DataMatrix

De acordo com Pablo, tanto o WR COde quanto o DataMatrix são códigos válidos. No entanto, sugere que o DataMatrix seja mais utilizado, afinal, o DataMatrix pode ter até 2mm de tamanho apenas, são muito mais seguros, e tem se tornado padrão nos EUA e na Europa (para outras funções não arqueológicas). Em arqueologia, os espanhóis estão se mostrando pioneiros neste método, que até o momento tem dado muito certo.

Assim como Pablo aponta, devemos esperar que os arqueólogos passem a aceitar e adotar estes novos métodos digitais que facilitam e agilizam nosso trabalho, sem perder a qualidade. De fato, a qualidade do trabalho aumenta e provavelmente será mais prazeroso fazer arqueologia em laboratório. Eu mesmo já fiquei empolgado só de pensar no futuro.

Leitura de código DataMatrix realizado através do Google Glass

Para saber mais:

8 comentários

  1. A dependencia de ter um aparelho para ler as informações da peça é uma nova e inadequada necessidade. As informações da ficha inscritas na peça agilizam muito mais a análise, já que voce precisa remeter o tempo todo a elas.
    Além disso, por mais que seja uma técnica “não invasiva”, o resultado estético final é muito inferior às inscrições diretas. Talvez o uso de QR Code nas fichas de depósito de material sejam mais adequadas do que colá-lo diretamente sobre cada peça.

    • Caro Rogério,
      A inscrição direta nas fichas é um método de catalogação que já vem sendo abandonado por vários laboratórios de arqueologia, já que novos métodos não invasivos vem sendo adotados. E não há problema nenhum em imprimir, além do código DataMatrix, o código de catálogo dos padrões antigos do laboratório na mesma etiqueta. O Uso de código QR ou DataMatrix vem como uma método que acelera muito o processo de coleta de informações da peça, sem necessidade de ficar procurando em fichas de registro e inúmeras papeladas. A idéia é reduzir ao máximo o contato direto com as peças. Com relação ao “resultado estético”, isto não deve sr de preocupação de um arqueólogo – a preocupação deve ser em preservar a peça e todas as suas informações, e não se ela fica ou não bonita com uma etiqueta.

      • Sou obrigado a discordar, já que o resultado estético é importante sim, tanto do ponto de vista técnico, quanto arqueológico. Boas apresenta fortes evidências de que a estética possui conotação local e faz parte de todas as produções materiais humanas. Em se tratando de uma intervenção de destaque (apesar de ser chamado de não interventiva), a alteração significativa do aspecto da peça também pode ser considerada uma alteração de ambiência. Assim quanto maior o adesivo, maior o impacto sobre o seu contexto de observação e estudo. Como é opaca, obstrui a visão de parte da peça e implica no comprometimento de parte do contexto estudado. As peças das fotos, se expostas num museu, apresentam uma péssima apresentação. Outrossim, fatores como umidade, projeção de luz e o tempo levarão o adesivo a se soltar, a molhar, perdendo assim as informações agregadas.
        Aliás, eu não entendo essa nova tendência da arqueologia de estudar tudo sem ser necessário manipular o material. Manipular em várias situações é fundamental e isso se aplica principalmente nas análises de material. Sei que tem gente que não põe a mão nele e diz que analisou, mas quando comparamos com os resultados de quem pos a mão, vemos que tecnologias de registro não são efetivas como técnicas de análise, apesar da maioria achar que as duas coisas não são diferentes.
        Não sou contra o uso de novas tecnologias. Sou contra seu uso simplesmente por ser considerada melhor por ser tecnológica. Trabalho com fotogrametria e transformação de refletância mas sei que esses são métodos de registro específicos a algumas caracteristicas que não manipulam os bens e não permitem vivenciá-los. A análise é estritamente arqueológica, usando métodos variados que carregam diferentes graus de objetividade e de implicações. A tecnologia não é a solução mas um caminho que deve ser combinado com linguagens distintas a fim de trazer um sentido mais completo.
        A proposição é válida, mas o abandono de métodos tradicionais sem a devida reflexão pode levar à perda de informações brutas. Quem garante que os bancos de dados daqui a 5 ou 10 anos conseguirão ler o QR code? Já tive esse problema com disquetes e também com outras mídias, e nós que lidamos com bancos de dados sabemos bem o que é isso a longo prazo.
        É muito legal usar o google glass para ler qr code, mas é realmente necessário usar esse aparato tecnológico? E quando não houver energia? E se o leitor cair e quebrar? Posso listar vários.
        A inscrição direta ainda parece, a mim, mais adequada em razão de sua durabilidade e universalidade.
        A agilização que o QR code promove vem com um custo embutido que onera tecnicamente os projetos na medida em que ele depende de um conjunto de outros equipamentos e conhecimentos. Se voce for procurar uma peça em uma coleção de 30000 fragmentos, como voce vai achar qual voce precisa? Escaneando um a um? Não sei se é tão mais rápido assim…
        A modinha do QR code certamente vai pegar para os tecnólogos e tecnocratas de plantão, mas seu uso sem a devida reflexão de seus limites e reais vantagens ainda trarão muitas dores de cabeça. Isso vem sendo tratado como um fim e não como um meio. Mostrar os resultados das análises em decorrência do uso do QR code, mostrando em que ele permitiu efetivamente avançar em análises ou gestão do material em longo prazo seriam mais frutíferos.
        Aliás, aqui no site mesmo, vi uma entrevista em que o especialista em computação e arqueologia dizia que o uso de códigos impressos já está obsoleto. Tecnologia em descompasso na arqueologia brasileira.
        Reiterando. O novo aparato tecnológico é bom para vários usos, mas seus limites devem ser primeiro conhecidos antes que sua aplicação seja ampla, já que, em caso de qualquer falha no processo, os dados contextuais das peças serão perdidos.
        No caso de utilizar um QR Code no saco de amostras, como está na foto, me parece mais pertinente que a marcação individual, desde que acompanhada das informações escritas. Confiar em uma só mídia para gerir esse tipo de dado é suicídio, mesmo por que, muitos dos materiais arqueológicos, após depositados, sofrem tratamentos que até deus duvida.
        Enfim, queria destacar que discutir essa possibilidade é um marco interessante na arqueologia brasileira, muito fechada ao tradicionalismo. Não podemos é tratar a tecnologia como fundamento absoluto de nosso registro e gestão. São ferramentas que devem ser testadas fartamente em diversas situações a fim de verificar sua aplicabilidade e com o respaldo de dados brutos a tangíveis. Talvez em alguns casos, de peças maiores, o QR funcione bem, mas o resultado para uma exposição, a meu ver, é desastroso, principalmente em peças pequenas, em que o QR code chama mais a atenção do que a própria peça.
        Enfim, agradeço pelo espaço de discussão. Precisavamos mesmo de um espaço para amadurecermos idéias e discutirmos pontos de vista distintos.

      • Juca
        Espero que possamos trocar idéias em breve.
        Parabéns aos autores pelo site. Muito conteúdo bacana.
        Abraços a todos

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