Foi publicado ontem, 15 de mai de 2014, um artigo na Science que trata de uma análise genética, coordenada pelo antropólogo forense James Chatters, do esqueleto encontrado numa caverna submersa na península de Yucatán, México. Trata-se de um esqueleto de uma garota de 15 anos apelidada de “Naia”.

De acordo com os autores da pesquisa, Naia possui um crânio de morfometria similar à brasileira Luzia.
Luzia é o esqueleto de mesma idade encontrada na região de Lagoa Santa durante escavações da década de 1970, coordenada pela arqueóloga Annette Laming-Emperaire. Posteriormente, o bioantropólogo brasileiro Walter Neves analisou o crânio de Luzia (entre outros crânios da América e do Velho Mundo) e concluiu que Luzia apresentava um crânio similar aos crânios de melanésios (aborígenes) e africanos mais antigos. Esta teoria se aplicaria para todos os habitantes do Holoceno inicial na América.
No entanto, de acordo com os autores da nova pesquisa, Naia possui DNA mitocondrial similar aos nativos americanos (atuais grupos indígenas da América). De modo geral, esta nova descoberta refutaria a teoria de que houve ondas migratórias de mais de um mesmo grupo biológico da Ásia para a América, sendo que apenas um mesmo grupo biológico teria povoado o continente vindos pela Beríngia (região entre o estado do Alaska, nos EUA, e a Sibéria, na Rússia).

Em entrevista à Folha de São Paulo, o professor Dr. Walter Neves, coordenador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), disse:
“Primeiro, o nosso modelo [de duas migrações] também é via Beríngia! A ideia é que um primeiro grupo oriundo da Sibéria teria a morfologia paleoamericana, recebendo mais tarde o aporte genético de um novo grupo “mongólico”. É difícil acreditar nas informações da biologia molecular, a cada trabalho eles dizem uma coisa. Não faz muito tempo, outro genoma paleoamericano supostamente indicava uma herança dual. Não vejo por que o mtDNA e a forma craniana teriam de concordar, porque são duas heranças genéticas totalmente distintas. Seria muito importante obter o genoma completo desse esqueleto e de outros”.

A descoberta do esqueleto se deu no ano de 2011, quando o mergulhador profissional Alberto Nava e mais dois colegas exploravam uma caverna submersa, a qual eles apelidaram de “Hoyo Negro”.

Nesta caverna encontraram, além do esqueleto de Naia, vestígios ósseos de animais da megafauna, como Tigres Dentes-de-Sabre e Mastodontes. Veja o vídeo abaixo, que mostra o local da descoberta e a coleta do crânio de Naia:
Clicando neste link você pode conferir a reconstrução em 3D feita do crânio de Naia: http://bcove.me/95fjtj87
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Artigo publicado na revista Science