O arqueólogo Luís Cláudio Pereira Symanski (UFMG) e seu aluno Geraldo Pereira de Morais Júnior (UFMG) publicaram recentemente um artigo sobre os hábitos alimentares e as práticas relacionadas à alimentação dos grupos escravizados que viveram em um espaço da senzala no final do século 19 e a primeira metade do século 20. A senzala fazia parte do Colégio dos Jesuítas, uma antiga fazenda localizada no município de Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro. Hoje o espaço abriga o Arquivo Público Municipal de Campos dos Goytacazes.

A pesquisa teve foco nas estratégias de dominação empregadas pelos “senhores” nesses estabelecimentos e nos meios desenvolvidos pelos escravos para lidar com as mesmas. Estes “meios” seriam as possibilidades que eles buscavam para a realização de suas atividades nessas estruturas de limitação. A alimentação, de acordo com os autores, consistiu em uma das práticas de reprodução cultural, de auto-expressão e de rejeição dos valores da sociedade escravista por parte dos escravizados que viveram no Colégio dos Jesuítas.

Os autores concluíram que os cativos fizeram uso de uso de diversas táticas, para melhorar suas condições de vida, seja pela obtenção de bens materiais (que lhes trariam um mínimo de conforto físico e psicológico), seja pela busca de alternativas para complementar a sua dieta, por meio da caça, da pesca, da coleta e, provavelmente, da comercialização e do escambo dos produtos que produziam em seus momentos de folga. Dessa forma, os autores afirmam que as pessoas escravizadas do Colégio dos Jesuítas não foram vítimas passivas do sistema escravista.
O artigo constitui o terceiro capítulo do livro Comida, Cultura e Sociedade: Arqueologia da Alimentação no Mundo Moderno, organizado por Fernanda Codevilla Soares. O artigo completo pode ser acessado gratuitamente no link abaixo:
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