Por FUMDHAM
Através de alta tecnologia e interação o Museu leva o visitante a uma imersão pela história natural de nosso planeta, desde o surgimento da vida até os dias atuais, passando pelas transformações do meio ambiente e tendo as mudanças climáticas como protagonistas dos acontecimentos.
Inauguração está marcada para 18 de dezembro (2018)
O público atraído pelo Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado no interior do Estado do Piauí, terá mais um excelente motivo para visitar o local a partir de 18 de dezembro deste ano. A região, que abriga a maior concentração de sítios pré-históricos descobertos do país, com dezenas de milhares de pinturas rupestres e outros vestígios da presença de nossos ancestrais, nos últimos 100 mil anos, ganhará o Museu da Natureza.
Ao longo de 12 diferentes salas, o visitante percorre o surgimento do sistema solar, vê a representação de novos e relevantes acontecimentos que vão desde a formação e desenvolvimento da vida em nosso planeta, passando pelo movimento de placas tectônicas, os momentos de avanço e de recuo do mar sobre os atuais continentes, o surgimento da vida fora da água, os ciclos de aquecimento e resfriamento terrestre, o período de existência dos Dinossauros, de animais da megafauna, entre outros. Enquanto algumas salas apresentam os fenômenos naturais e climáticos no planeta, como um todo, outras deixam o visitante inteirado sobre a região onde o parque se situa, ampliando o aproveitamento da experiência singular que é visitar a Serra da Capivara.
O museu será aberto ao público no dia 19 de dezembro e funcionará de quarta a segunda-feira das 13h às 19h.

O protagonismo do clima e a influência inédita do ser humano.
Cada ciclo climático ou evento externo, como a queda de asteroides, provocam novas condições para a vida no planeta e a extinção e existência de novas espécies de fauna e flora. E é esse o mote que conduz o visitante pela exposição. Marcello Dantas, curador do Museu, explica que: “A gente olha para a Natureza com o Clima sendo o narrador. Toda vez que ele muda, muda tudo em volta… O clima é a estância definidora da existência e da vida, e é sobre ele que iremos contar a história dos tempos que antecedem a história da humanidade”.

natureza desde as origens do sistema solar até os dias atuais.
Ainda, segundo Dantas, o Museu traz para o debate o fato de estarmos vivendo uma nova mudança climática em que, pela primeira vez na história de nosso planeta, a ação de uma só espécie tem impacto global nessa relação: “Os níveis de gás carbônico emitidos pela humanidade – resultado de queimadas, desflorestamento e atividade industrial, entre outros – têm contribuído drasticamente para o aquecimento do planeta”.
Por isso, o encerramento da visitação, na 12ª sala, os visitantes, acomodados em um pufe gigante, assistem a um filme projetado no teto da sala. As imagens são acompanhadas por um texto narrado pela cantora Maria Bethânia.
Nele, somos conduzidos por uma breve jornada pela existência do Planeta: “A Terra é uma grande esfera em desassossego, coberta pela delicada e resistente película de vida: a biosfera”; passamos pelo protagonismo do clima na existência da vida no planeta: “[A terra] Ela pulsa e reage a cada espasmo do clima, a estância definidora do tempo, da existência e da vida.”, e somos convidados a refletir sobre nossa participação na manutenção da vida na terra:
“… Neste exato momento, uma nova transformação está em curso. Capas de gás sufocam e aquecem a delicada biosfera. Geleiras derretem nos polos. Os mares avançam. Florestas são incineradas. Alguns seres desaparecem, outros se proliferam. A cada hora, nove mil pessoas se somam à população mundial e cerca de três espécies entram em extinção. (…) Somos os únicos capazes de transformar a criação em uma atividade. Temos CRIATIVIDADE. (…) A natureza está em trânsito. A estabilidade é uma ilusão. A vida insiste, resiste. Mas qual vida? Qual vida você quer criar?”
Tecnologia interativa e imersiva.
A linguagem usada no Museu combina acervos, tecnologia, documentos científicos e evidências materiais, além de animação, recursos cenográficos e conteúdo audiovisual.

Imagens aéreas feitas com Drones conduzem o visitante por um passeio virtual pela topografia do parque por seus cânions, boqueirões, cavernas e flora. A experiência pode ser feita com óculos de realidade virtual, simulando um voo em asa delta (imagem acima).
Fósseis de animais achados na Serra da Capivara desde a megafauna aos nossos tempos estarão dispostos em uma vitrine. Na parede, eles ganham vida em reconstituições de cenas projetadas desses animais em atividade no clima úmido e frio da antiga Serra da Capivara.
Imagens de dinossauros criadas por computação gráfica tridimensional são projetadas sobre uma pilha de barris que remetem aos usados para armazenar petróleo e representam nosso ponto de contato entre o presente e o passado: os dinossauros e o petróleo.
Alguns animais que viveram no território brasileiro há milhares de anos foram modelados pela primeira vez, especialmente para o museu. Animais como Preguiças gigantes, lhamas, ursos, mastodontes, entre outros, emigraram para o Sul a milhares de anos e sobreviveram na região da Serra da Capivara e arredores até por volta de 10 mil anos atrás.

A fauna e a flora encontradas no atual bioma da região, a caatinga, têm uma sala só para eles: insetos e ossos de animais como macacos, onças e aves, pedaços de madeira e flores coletadas no parque ficam em exposição.
Estas são apenas algumas das atrações que o visitante vai encontrar.
O museu também foi pensado para gerar reflexão. A construção do prédio tem forma de espiral concêntrica. Segundo Elizabete Buco, arquiteta idealizadora do projeto: “A forma espiral me dá a ideia de evolução, uma sucessão de acontecimentos, de movimentos ascendentes, progressivos e sem fim. Também é uma forma muito presente na natureza.”
Ao todo, o Museu tem 1700 metros de área expositiva permanente e mais 700 metros de área para eventos e exposições temporárias.
Experiência completa
Com o Museu da Natureza, o visitante do Parque Nacional da Serra da Capivara aumenta e muito o aproveitamento da experiência singular que é visitar a região, ganhando uma visão mais abrangente de como era a vida dos nossos ancestrais que deixaram tantas marcas de sua presença por ali.

É neste sentido que Niède Guidon, comemora a inauguração do museu. Segundo a arqueóloga que tem seu nome diretamente ligado à preservação do acervo da região e com a criação e gestão do Parque desde sua Fundação em 1979, “o Museu da Natureza vai complementar o conteúdo histórico e educativo do Parque composto pelo Museu do Homem Americano, pelo centro de pesquisas da FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano que é responsável pela preservação do Parque) e pelas centenas de sítios arqueológicos visitáveis”.
Com essa nova atração, passam a ter, também, sua devida relevância as formações rochosas exuberantes e a riqueza da flora e fauna da região do Parque, que ocupa 130 mil hectares no interior do Estado do Piauí.
Ficam expostos de forma muito organizada, o percurso natural que levou as populações humanas a ocuparem a região há tantos milhares de anos, a presença de uma megafauna pouco conhecida; a formação dos paredões onde um dia já foi fundo de mar; até chegar à caatinga, bioma exclusivamente brasileiro a ocupar a região que hoje tem um clima árido, mas que em outros tempos já foi úmida e favorável a muita diversidade de vida.

Até há 10 mil anos, a região onde hoje está a Serra da Capivara era caracterizada por um clima mais úmido e menos quente, onde predominava o cerrado. Lá, havia rios e lagos e uma vegetação exuberante, com árvores e arbustos. O caminho da natureza até a atual vegetação formada, predominantemente, pela caatinga fica mais bem evidenciada.

15 anos entre a ideia e a conclusão
Em 2003, Niéde Guidon teve a ideia de fazer o Museu da Natureza e iniciou conversas com o BNDES em busca de financiamento. Mesmo que bem recebido pelo Banco o projeto não avançou até 2008, quando os primeiros documentos, ofícios, planilhas, cálculos, estimativas e um projeto arquitetônico mais detalhado foi solicitado pelo Banco. Desde então, mesmo com as mudanças de pessoas nos cargos do BNDES, o projeto foi tendo continuidade.
Em 2013 foi assinado o contrato e liberaram a primeira verba para a elaboração do projeto executivo. Niéde chegou a doar um prêmio que ganhou para que as ações fossem executadas.
As obras foram iniciadas em junho de 2017 e a inauguração acontece em 18 de dezembro de 2018.
Sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara
O Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 1979, quase uma década depois que uma equipe de pesquisadores liderada pela arqueóloga Niède Guidon e realizada em parceria com a França organizou a primeira expedição por aqui e comprovou a importância do lugar para a ciência e a cultura mundiais. Além das formações rochosas exuberantes e da riqueza de suas flora e fauna, os 130 mil hectares de parque (quase o tamanho de Teresina, a capital do Piauí) abrigam a maior concentração de sítios pré- históricos do país. São principalmente pinturas rupestres realizadas pelos povos que viveram na região há 100 mil anos.

A criação do parque foi a primeira de uma série de medidas para evitar que a área continuasse vulnerável à exploração de caçadores e madeireiras, que colocava em risco a flora, a fauna e até mesmo o acervo pré-histórico. Assim foi criada a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), formada pelos pesquisadores que participaram das primeiras expedições à região e que, então, passaram a se ocupar do parque. Uma das principais ações da entidade foi preparar a documentação necessária para a inscrição do parque na lista de patrimônios culturais mundiais da Unesco, que foi aceita e oficializada em 1991.

Do conjunto de 1.354 sítios arqueológicos cadastrados 204 estão preparados para a visitação turística, sendo 17 deles acessíveis a pessoas com dificuldades de locomoção. Tal é o alto nível da estrutura do parque que em 2003, ele foi premiado com a Declaração das Nações Unidas como Unidade de Conservação com melhor infraestrutura da América Latina.
Aspas e minibios
Niède Guidon é a principal referência quando o assunto é Parque Nacional da Serra da Capivara. Nasceu em 12 de março de 1933, em Jaú (SP). Formou-se em História Natural e especializou-se em Arqueologia na Sorbonne. Retornou ao Brasil para trabalhar com arqueologia na USP. Porém, a ditadura militar a fez voltar para Paris, onde fez seu doutorado e seguiu importante carreira acadêmica. Na década de 1970, durante uma estada no Brasil, foi ao Piauí checar os sítios arqueológicos que lhe haviam sido apresentados por fotografias, em 1963. Foi o primeiro contato com a região da Serra da Capivara, onde desde 1981 Niède vive e dirige um significativo patrimônio cultural e ambiental, por meio da Fundação Museu do Homem Americano.
“Dediquei a minha vida à pesquisa pelo prazer da descoberta e a sorte também contribuiu para que fossem muitas. Numerosos colegas de diferentes áreas percorreram comigo esse caminho e toda a equipe hoje se orgulha de termos podido reverter à sociedade esses conhecimentos. Há 20 anos criamos o Museu do Homem Americano e hoje, com imenso prazer, anunciamos a inauguração, no próximo mês de dezembro, do Museu da Natureza. Agora, a região da Serra da Capivara se transforma num complexo turístico de características únicas, unindo belezas naturais, riqueza cultural e conhecimento. Desta vez a sociedade receberá além do conhecimento a possibilidade de ter um desenvolvimento, também econômico, duradouro.A exposição de longa duração proposta para o Museu da Natureza na região do Parque Nacional da Serra da Capivara complementará o conteúdo histórico e educativo do parque composto pelo Museu do Homem Americano, pelo centro de pesquisas da FUMDHAM e pelas centenas de sítios arqueológicos visitáveis no Parque.”
Material recente de referência sobre Niéde e o Museu:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/10/17/niede-guidon-inauguro-o-museu-da-natureza-e- vou-descansar/
Elizabete Buco, arquiteta paulista é a idealizadora do projeto do Museu da Natureza. Exerce suas atividades há mais de 20 anos na região do Parque Nacional Serra da Capivara na área de planejamento, desenho e acompanhamento de infraestrutura e na de concepção gráfica.“A forma espiral [escolhida para o museu] me dá a ideia de evolução, uma sucessão de acontecimentos, de movimentos ascendentes, progressivos e sem fim. Também é uma forma muito presente na natureza.”
Rosa Trakalo, membro da Fundação Museu do Homem Americano e responsável da gestão do projeto desde o início.“Ver o Museu da Natureza inaugurado representa para mim, aquilo que aprendi muito jovem e que guiou minha vida: tarefa cumprida… Em breve teremos conseguido mais uma vez,retornar à sociedade, o conhecimento adquirido, através de décadas, pelos pesquisadores. Aregião se transforma agora num complexo cultural quase único”.
Marcello Dantas, curador do Museu da Natureza, é o nome por trás de algumas das principais mostras de arte no Brasil. Renomado curador de exposições, diretor artístico e documentarista, ele é responsável por inovar o conceito de museologia no país, trazendo doses sem precedentes de tecnologia, interatividade e recursos multimídia para oferecer aos visitantes o que ele chama de “uma experiência de imersão total”. Entre os diversos e conceituados projetos e exposições, dentro e fora do Brasil, assinadas por Dantas, estão o Museu da Língua Portuguesa (o museu com maior visitação no Brasil), a Japan House São Paulo, o Museu do Homem Americano, Museu das Telecomunicações, Museu da Gente Sergipana. Também assinou a curadoria de grandes exposições como “ComCiência”, da artista australiana Patricia Piccinini, que aconteceu em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e BeloHorizonte e foi a mostra de arte contemporânea mais visitada no mundo em 2016, segundoo “The Art Newspaper”.
Seu currículo inclui os prêmios de melhor documentário na Bienalle Internationale du Film Sur L’Art, do Centro Georges Pompidou, em Paris, no FestRio, no International Film & TV Festival of New York, além do prestigioso ID Design Award Business Week.“O Museu da Natureza vem se somar a uma série de outros que estão sendo construídos no interior do Brasil. As populações de fora dos grandes centros do país têm buscado registrar e contar suas histórias e os museus são um desses caminhos”. – Marcello é a mente por trás de projetos deste tipo como o Museu do Homem Americano, Museu das Telecomunicações, Museu da Gente Sergipana e o Museu das Minas e do Metal.