Por: Luiza Vinhosa Rabelo
Uma ponta bifacial com dimensões extraordinárias foi encontrada perto do Rio Corvo na área rural da cidade de Boa Ventura de São Roque, no estado do Paraná. O sítio arqueológico foi nomeado Beira Rio Corvo 1. A descoberta foi publicada por Claudia Parellada, Fabio Parenti e Mercedes Okumura. O artefato lítico, feito de quartzo, pesa 233,1g, possui comprimento máximo de 215 mm (estimado, devido à quebra da ponta distal), largura de 103,2 mm e espessura de 10,00 mm. A ponta está em boas condições, exceto a parte distal, que está faltando devido à fratura. Os bordos da lâmina ainda estão afiados e há algumas concreções possivelmente devido à oxidação em torno do sedimento.
A ponta foi analisada a partir da cronologia relativa de todas as cicatrizes. Os pesquisadores concluíram que o artefato foi obtido a partir de pelo menos cinco estágios de lascamento. As fases de lascamento estão representadas na figura abaixo preenchida em escala cinza, sendo as mais escuras as mais antigas e as mais claras as mais recentes. A técnica de lascamento usada para confecção da ponta envolveu martelo de pedra e possivelmente pressão.
Os pesquisadores consideram não ser possível definir com precisão de que forma a ponta foi usada, mas levantam algumas possibilidades. As armas que usam pontas maiores geralmente são as lanças, que são armas de confronto direto, mas também é possível o arremesso com a ajuda de um atirador de lanças ou de um arco. Nesse caso, as pontas são chamadas respectivamente de dardos e de pontas de flecha. Há ainda a possibilidade de uso ritual. Pontas bifaciais já foram registradas em municípios próximos como Guarapuava, Prudentópolis e Reserva, mas nenhuma delas possui dimensões tão grandes quanto esta ponta encontrada em Boa Ventura de São Roque. Algumas pontas similares em termos de tamanho e tecnologia já apareceram no rio Xingu e em Itamarandiba (MG). Porém, nenhuma dessas pontas possui a mesma morfologia da ponta aqui descrita.
Para uma maior investigação desta ponta de tamanho extraordinário, é possível uma análise comparativa com as pontas “rabo de peixe”, que são comuns na Argentina e no Uruguai e que aparecem, de forma rara, também no Brasil.