Todo fóssil é de um dinossauro?

Por Natália Oliveira

Sempre que um achado paleontológico é publicado, ou toda vez que um paleontólogo (ou estudante da área) se identifica como tal, logo as pessoas falam: “Ah, que legal! Então você encontra dinossauros?” ou perguntam se na cidade em que estão, já encontraram o famoso T-Rex. E não há nenhum problema nisso, já que os dinos são os fósseis mais populares do mundo, devido aos desenhos animados, à famosa e aclamada franquia de mídia de ficção científica Jurassic Park e a minha favorita: A Família Dinossauros.

Mas você já se perguntou se todo fóssil é um dinossauro? Aliás, você sabia que existe uma vasta gama de fósseis que vão muito além dos dinos? Vamos fazer uma analogia bem simples para você entender. Pense em um guarda-chuva e abra ele sobre sua cabeça. Esse guarda-chuva simboliza o que é a Paleontologia. Agora observe cada um daqueles ferrinhos do guarda-chuva. Cada um deles pode representar um tipo de fóssil, onde o grupo dos dinossauros é apenas um desses ferrinhos. UAU! Isso quer dizer que existem muitos outros tipos de fósseis, então? A resposta é SIM. 

Mas nem todos coexistiram com os dinossauros. Levaremos em conta o tempo geológico que é uma escala cronológica que representa uma linha de tempo que inicia na formação da Terra, até os dias atuais, dividindo-se em Éon, Eras, Períodos, Épocas e Idades. Esta escala é muito utilizada para organizar e datar os grandes eventos geológicos ocorridos no planeta. Com ela, se torna viável estudar mais a fundo cada fóssil e encaixá-lo em seu devido tempo. Por isso, paleontólogos podem estruturar a vida na Terra desde seu primórdio e compreender melhor as infinitas formas de vida. Observando  esta escala, podemos notar quais organismos existiam antes, durante e depois da existência dos dinossauros (Se quiser saber mais sobre as vidas nas Eras Geológicas, assista à live que está nas referências desta reportagem.).

E agora vamos falar um pouco sobre cada um dos tipos de fósseis. Tenhamos em mente algumas definições que vão nos ajudar a manter tudo em ordem dentro da nossa cabeça. A palavra fóssil vem do latim fossilis e significa “extraído da terra”, ou seja, são restos de organismos que não existem mais ou mesmo evidências de sua existência. Esses restos e evidências são divididos em somatofósseis e icnofósseis.

SOMATOFÓSSEIS

A palavra somatofóssil vem do grego antigo σῶμα, σῶματος (soma + atos) que quer dizer corpo. O que significa que, um somatofóssil é justamente composto de partes somáticas do corpo de algum indivíduo animal e/ou vegetal que existiu há milhares de anos. São partes de um organismo, como por exemplo, um dente, um fragmento de braço, uma pena, uma folha, um pedaço de tronco, etc. 

Crânio de Thrinaxodon sp. cinodonte do Período Triássico a cerca de 250-242 milhões de anos. Fotografia: Felipe Lima Pinheiro
Fóssil de Araripesuchus sp crocodiliforme que existiu durante o Período Cretáceo, cerca de 125 a 66 milhões de anos. Fotografia: Felipe Lima Pinheiro

ICNOFÓSSEIS

Do grego íkhnos, que significa rastro, evidência de que um organismo esteve naquele local, como uma pegada, molde de conchas, molde de folhas, excremento, marca de mordida, túneis ou galerias de habitação, etc. O estudo deste tipo de fósseis pode auxiliar na compreensão e estruturação do modo de vida e o meio em que aquele organismo estava inserido. Isto é, mesmo que não seja encontrado o espécime em si, é possível utilizar o material encontrado e este pode ser um achado tão ou mais incrível do que encontrar um somatofóssil e ambos são de extrema importância para o estudo das formas de vida antigas.

Diferentes morfotipos de coprólitos (fezes fossilizadas) encontrados em São Gabriel -RS. Fotografia: Joseane Salau Ferraz

Há também, a possibilidade – embora não muito comum – de se encontrar um icno associado a um somatofóssil e vice-versa. Dizemos que um icnofóssil encontra-se associado a um somatofóssil quando o material encontrado é um fragmento (ou indivíduo inteiro) que possui alguma marca de que outro indivíduo passou por ali e isto pode ser exemplificado como um animal que foi predado e fossilizou com a marca de predação (Figura abaixo) ou, quando um indivíduo perfura outro e deixa seu rastro. E quando temos o caminho inverso (somato associado a icno) podemos exemplificar como um fragmento de escamas encontrado no interior de um coprólito. Com isso, pode-se inferir a cerca do tipo de alimentação do espécime que deixou aquele vestígio.

Fóssil de cervídeo do Pleistoceno, encontrado em Rio Grande, RS. Marcas de predação em A, C, D, E, F e G, e osteofagia em B. Fotografia de Emmanuelle Fontoura, Heitor Francischini e Paula Dentzien-Dias.

Ou seja, além dos dinossauros, a riqueza fossilífera percorre um caminho amplo e cheio de subdivisões. Tais como a Paleobotânica (ou Paleontologia vegetal) que é ramo que estuda as plantas fossilizadas, a Paleozoologia que estuda os resquícios e vestígios de animais (e nesta, entram todos os grupos de animais), a Micropaleontologia que se detém a estudar microfósseis. Além disso, existem outras áreas dessa ciência que estudam os processos de fossilização, o clima, a distribuição dos organismos, as interações entre eles, o comportamento individual e social e até os processos que ocorrem a partir da morte de determinado organismo. Aliás, é possível utilizar este ramo da ciência até para solucionar crimes

Já deu para notar que a Paleontologia é um guarda-chuva e tanto. E como ela é importante para que possamos preencher as lacunas existentes sobre tudo aquilo que nos precedeu e compreender como as formas de vida evoluíram ao longo do tempo até chegar aos tempos atuais. 

Referências bibliográficas

Tomassi, H. Z. & Almeida, C. M. O que é fóssil? Diferentes conceitos na Paleontologia In: XXII Congresso Brasileiro de Paleontologia, Natal. Atas, p.143-147. 2011.

PRESS,F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J. e JORDAN, T.H. Trad. Rualdo Menegat (coord.) et al. Para Entender a Terra. Capítulo 10. “O Registro das Rochas e a Escala do Tempo Geológico”. Porto Alegre: Bookman, 2006.

Carneiro, C.D.R.; Mizusaki,A.M.P.; Almeida, F.F.M. de. 2005. A determinação da idade das rochas. Terræ Didatica, 1(1):6-35.

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