O fim da humanidade é tema constante de discussões na sociedade. Vivenciamos guerras, pandemias, crises ambientais e nos perguntamos: será essa a causa da extinção de nossa espécie? Porém, o que realmente sabemos sobre uma extinção?
Antes de tudo, precisamos compreender os tipos de extinções existentes e os fatores que levam a elas.
O primeiro parâmetro a ser avaliado é a escala da extinção. Ela pode ser de pequena escala, afetando somente algumas poucas espécies (ou até mesmo somente uma espécie) ou pode ser de grande escala, afetando um grande percentual de espécies viventes na Terra.
A extinção de pequena escala pode ser uma pseudoextinção, a qual é causada pelas constantes pressões ambientais que os organismos sofrem e levam às suas adaptações. A partir de um ponto, essas adaptações são tão numerosas que os descendentes dos “organismos originais” são considerados uma nova espécie. Na paleontologia, isso é analisado pelas modificações morfológicas que os organismos apresentam ao longo do tempo, indicando seu grau de parentesco.
Outra extinção de pequena escala e que ouvimos muito falar ao longo da nossa vida é a extinção causada pela interação dos organismos. Existem vários exemplos que ilustram esse tipo de extinção. Um deles é a introdução de uma espécie em um território, antes isolado, que irá competir por recursos com as espécies já habitantes do local. Eventualmente, a espécie mais eficiente pode levar vantagem e a(s) outra(s) ser(em) extinta(s). Isso ocorreu muito ao longo da história, principalmente por conta das constantes mudanças ambientais ocorridas no planeta. Territórios isolados, como ilhas, podem ser conectados ao continente, gerando um intercâmbio entre espécies até então isoladas; mudanças nas correntes oceânicas podem alterar a ecologia do fundo oceânico, gerando uma troca e interação até então inexistente entre algumas espécies. E no nosso caso, vemos que a chegada dos humanos em vários continentes foi responsável pela extinção de espécies locais, pois dominamos os recursos e desequilibramos as teias alimentares. Portanto, vemos que esse tipo de extinção é muito comum na história da vida, mas é restrita e não afeta todo o globo. Esse é o tipo de extinção que tentam evitar quando falam em pôr fim a atividade de caça ou pesca de determinados animais que estão com sua existência ameaçada.
Já as extinções de grande escala, também chamadas de extinções em massa, não são localizadas, pois elas afetam um alto percentual de espécies ao longo de todo globo. Tivemos no mínimo cinco grandes eventos de extinção na história (Figura 1). Eles nos mostram que suas causas são variadas e são potencializadas por vários fatores tectônicos, climáticos e extraterrestres, que quando se combinam geram reações em cadeia e provocam as extinções em massa.

O evento mais famoso é do Cretáceo-Paleógeno, pois foi marcado pelo fim dos dinossauros não-avianos, há aproximadamente 66 milhões de anos. No entanto, os dinossauros não foram os únicos afetados. Esse evento também marcou o fim de diversos grupos de plantas e de uma longa lista de organismos marinhos, na qual fazem parte os amonoides, biválvios rudistas, equinodermos, peixes e grandes répteis marinhos.
A sucessão dos eventos que levaram à essa extinção ainda é debatida, mas o principal fator começa com o impacto de um asteroide de cerca de 10 quilômetros de diâmetro (maior que o Monte Everest) em Yucatán, no México (Figura 2). Ele colidiu com a Terra com uma força equivalente a 1 bilhão de bombas nucleares de energia, a uma velocidade cem vezes mais rápida que um jato comercial. O impacto provocou terremotos e tsunamis, que destruíram toda região ao redor. Os detritos e a poeira que ficaram suspensas na atmosfera cobriram grande parte do planeta e bloquearam a entrada de luz solar por anos. Isso afetou diretamente os produtores primários como as plantas e algas, que não conseguiram realizar a fotossíntese. A diminuição drástica dos produtores primários levou a um colapso em todas as teias tróficas dos ambientes terrestres e marinhos. Além disso, os vulcões nesse período se tornaram muito ativos, deixando o ambiente marinho ácido e muito pouco propício ao desenvolvimento da vida.

Esse evento aparentemente catastrófico leva a crer que as extinções em massa ocorrem de um momento para outro. No entanto, essa sucessão de eventos leva milhões de anos para se desenvolverem até atingirem um período crítico de extinção das espécies. Para entender melhor essa ação gradual e “lenta” (na visão humana) das extinções, é importante detalharmos as causas da maior extinção em massa que já ocorreu na Terra, a extinção do Permiano-Triássico, há aproximadamente 252 milhões de anos.
Nesse caso, a formação de uma grande massa de terra, chamada de Pangea (Figura 3), que reuniu todos os continentes, foi o principal fator para desencadear a sucessão de eventos que levou ao fim aproximadamente 95% de toda vida na Terra. A formação do Pangea causou a destruição de todas as margens continentais entre as placas tectônicas que se chocaram, acabando com a vida marinha ali existente. Além disso, a formação dessa gigantesca massa continental gerou mudanças nos padrões de circulação atmosférica e marinha, em que as distâncias entre as bordas dos continentes eram tão grandes que a umidade dos oceanos carregada pelos ventos não conseguiria chegar ao seu interior. Para somar a isso, também houve um grande aumento do vulcanismo nos continentes, que liberaram grande quantidade de CO2 e outros gases na atmosfera, aumentando o efeito estufa e levando a um aquecimento da temperatura global. Essa combinação de fatores tectônicos, vulcânicos e climáticos levou a uma grande desertificação em praticamente toda extensão do Pangea e afetou praticamente toda vida na Terra.

Não há dúvidas de que os seres humanos estão causando inúmeras extinções de pequena escala, através da caça, pesca, poluição, incêndios, uso indevido da terra, por exemplo. No entanto, há uma linha de pesquisadores que afirmam que também estamos vivendo um evento de extinção em massa nesse momento e pela primeira vez na história da Terra a causa não é inteiramente natural, mas uma consequência de ações humanas. Essa afirmação ainda é muito discutida e não é totalmente aceita pela comunidade científica. Os contra-argumentos levam em conta que nossas ações não estão afetando tanto os invertebrados, que constituem a grande maioria da biodiversidade na Terra. Todavia, independente do caráter classificatório do evento que estamos vivendo hoje uma coisa é clara: nós estamos afetando o ambiente ao nosso redor de uma maneira degradante e em um tempo relativamente muito curto. As grandes extinções são geradas por processos naturais que levam milhões de anos para afetarem a vida na Terra. Nossas ações contra o meio ambiente e as consequências das mudanças climáticas estão afetando a biosfera em tempo recorde. Devemos aprender com o passado da Terra a fragilidade do sistema que sustenta a vida e nos conscientizarmos para minimizar nosso impacto sobre a natureza.
REFERÊNCIAS E MATERIAIS ADICIONAIS
- Bond, D.P., & Grasby, S.E. (2017). On the causes of mass extinctions. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 478, 3-29.
- Schulte, P., Alegret, L., Arenillas, I., Arz, J.A., Barton, P.J., Bown, P.R., … & Willumsen, P.S. (2010). The Chicxulub asteroid impact and mass extinction at the Cretaceous-Paleogene boundary. Science, 327 (5970), 1214-1218.
- SCHULTZ, C. L.. Extinções. In: Carvalho, I.S.. (Org.). Paleontologia. 2ed.Rio de Janeiro: Interciência, 2004, v., p. 115-129.