Encontrei um fóssil. E agora? O que fazer?

Por: Joseane Salau Ferraz

Encontrar um fóssil é um grande sonho para muitas pessoas. Por vezes, aqui no Brasil alguns materiais são descobertos por acidente. Isso porque o nosso país é enorme e possui uma grande riqueza no que diz respeito ao patrimônio fossilífero, por isso, encontrar um material fóssil por acidente é bastante possível.

Quando paleontólogas e paleontólogos encontram um material, eles sabem muito bem o que fazer, e como agir dentro das diretrizes ética e legalmente estabelecidas em seus países. Mas e se você não é um (a) paleontólogo (a) e encontrou um material paleontológico? Você sabe o que fazer? Não? Então aqui vão algumas perguntas e respostas para te ajudar a registrar a sua importante descoberta paleontológica.

Posso levar o fóssil para casa?

Quando encontramos um material, é normal ficarmos muito empolgados, mas é preciso saber como agir corretamente porque a empolgação pode corroborar para tomarmos decisões por impulso que podem gerar a perda total do material. Por exemplo, sem pensar e sem ter o conhecimento necessário, muitas pessoas acabam mexendo tentando remover o fóssil e por fim, até levam para casa. É muito importante saber que, caso você encontre não o remova do local! 

Ao manipular um fóssil sem instrução, você pode danificar o material e até mesmo o destruir. Lembre-se que eles estão soterrados há milhões de anos e por isso, eles podem estar muito frágeis e com a integridade comprometida. É muito importante que você tenha em mente isso. Além disso, se você o remover do local, muitas informações do contexto geológico de onde ele estava será perdido e, consequentemente, o material que você encontrou perderá todo o valor científico e o valor da sua descoberta.

Então, como proceder de forma correta?

Passo 1: Tire MUITAS fotos do material que você encontrou e do local de onde ele foi encontrado. Isso é fundamental.

Passo 2: Não esqueça de usar algum objeto como uma escala, quando um material é fotografado dificilmente será possível inferir o tamanho dele pela foto, mas usando algum objeto como escala, isso facilitará muito a análise do material pelas fotos que você tirou. Esse objeto pode ser um chaveiro, uma régua, uma garrafa, sua mão… qualquer coisa serve! Coloque o objeto ao lado do material que você encontrou (veja a imagem abaixo). Caso você tenha se esquecido de usar não se preocupe que nem tudo está perdido. Esse é o passo ideal, mas não fundamental.

Passo 3: Se for possível, use as coordenadas de um GPS hoje muitos celulares aportam GPS nas suas configurações, se não for possível anotar e salvar as coordenadas do local, tente lembrar a localização, para isso observe se existe algum lago, uma rodovia, montanhas, vegetação por perto para que depois você saiba comunicar onde e como os pesquisadores conseguem chegar ao local.

Passo 4: Entre em contato com os profissionais da área. Hoje graças à internet, conversar com pesquisadores se tornou muito acessível e são inúmeros os profissionais da área que se dedicam à divulgação científica e que adoram bater um papo sobre Paleontologia. Envie as fotos para eles e informe o local de onde você encontrou. Tenha em mente que a descoberta é toda sua, os profissionais apenas o ajudarão a proceder e a manipular a sua descoberta de modo correto, evitando que informações sobre o material se percam.

Mas e se for uma pedrinha sem importância?

Este é um questionamento muito comum. Caso você tenha dúvidas se realmente o que você encontrou trata-se de um material fóssil, não tenha receio em perguntar e tirar suas dúvidas com os profissionais da área. Todos os fósseis são importantes, pois fazem parte da história da vida na Terra. Mas lembre-se que eles não possuem valor monetário e sim valor histórico/científico e, portanto, eles são patrimônios públicos e o comércio de fósseis é proibido por lei.

Caso você esteja pensando em vender ou comprar um fóssil aqui no Brasil, lembre-se que é um crime. Alguns países até permitem o comércio, mas o Brasil não. E infelizmente muitos fósseis brasileiros são traficados para serem vendidos em outros países e isso acaba gerando uma perda imensurável para a nossa história e para todo o patrimônio paleontológico brasileiro.

“Mas eu nunca soube disso, e inclusive tenho alguns fósseis em casa” ou “Não tenho certeza se o que eu achei é algo paleontológico”

Contate alguém mesmo que você não tenha certeza se o que você encontrou é ou não um fóssil. Lembre-se de fornecer o maior número de informações possíveis. Os (as) paleontólogos (as) verificarão se o que você encontrou é realmente um fóssil, e então com base nas informações sobre a localidade eles verificarão se já houve outros registros de fósseis ou se é uma nova descoberta. Dependendo do que foi encontrado, pode ser uma espécie nova e você pode até ajudar os profissionais a nomear a espécie ou ainda, em homenagem ao descobridor pode até mesmo levar o seu nome! Já imaginou uma espécie que carregue o seu nome? E aí você pode falar, oficialmente, que você foi o responsável por uma importante descoberta paleontológica. Incrível, né?

“Mas eu não conheço nenhuma paleontóloga (o), na minha cidade não tem”

Você pode entrar em contato com o museu arqueológico mais próximo da sua cidade, ou pode até mesmo enviar um e-mail aqui pro nosso site e nós te ajudaremos.

Nosso e-mail: arqueologiaeprehistoria@gmail.com

“Eu tenho medo que os pesquisadores tirem de mim o material que EU encontrei”

Não se preocupe. Os pesquisadores não vão tirar o material de você. Infelizmente nós enquanto espécie, acreditamos que tudo na natureza nos pertence, mas na verdade, é que nós apenas fazemos parte dela. Se tratando de fósseis é igualzinho, eles não pertencem a quem encontrou e sim, eles pertencem a todos nós. Eles são um bem de todos e a lei os define como patrimônio público. Porque assim, todas as pessoas do mundo tem o direito de saber mais sobre o passado da vida na Terra e os lugares mais acessíveis para conservar esses materiais são os museus e as instituições de ensino, onde todos tenham acesso.

E tudo o que os pesquisadores desejam é estudar e preservar esses materiais para que futuras gerações também tenham acesso a esses materiais e possam se encantar com fósseis. Por isso, os pesquisadores evitarão todo e qualquer tipo de conflito com você. Eles só querem a sua ajuda. Além disso, você pode ganhar uma réplica do material que você descobriu e assim, terá uma lembrança para sempre do seu achado.

Caso você tenha encontrado um fóssil ou possua um em casa, considere doar para um museu. Dê preferência aos museus mais próximos do local da descoberta. Se não existirem museus próximos, considere doar para alguns dos museus localizados no seu estado. Para os pesquisadores, a maior preocupação é estudar estes materiais para aprender mais sobre os antigos organismos que habitaram a terra e assim gerar conhecimento para todos.

“Mas se os fósseis são públicos, quer dizer que eles não têm valor?”

Como mencionado antes, eles não têm valor monetário. A compra e venda de fósseis é um crime gravíssimo e a lei brasileira pune o tráfico paleontológico com multas e até prisão. Tentativas de venda destes materiais na internet são feitas em sites de venda e compra de produtos e as denúncias tem aumentado bastante nos últimos anos, portanto, não venda os materiais que você encontrou e nem considere comprar, pois você estará incentivando o crime e a perda do conhecimento científico. Se você souber de alguma pessoa ou entidade que esteja vendendo materiais paleontológicos, seja nas ruas ou na internet, denuncie! As denúncias podem ser feitas a Polícia Federal.

Caso você seja um amante de fósseis e gostaria de ter esses materiais em sua casa, considere comprar réplicas legítimas. Existem alguns sites da internet que são especializados na produção de réplicas. E por vezes os próprios especialistas em paleontologia como os paleoartistas fazem réplicas para vender. Confira e valorize o trabalho destes profissionais.

E aí? Você tem mais alguma dúvida sobre o que fazer ao encontrar um fóssil? Pergunte pra gente!