Quem são os ancestrais dos seres humanos atuais? Um pequeno catálogo

Texto: JuCa

Última atualização: 25/08/2019

Uma das maiores curiosidades daqueles fascinados por esta bela ciência que é a Arqueologia está relacionada à Evolução Humana. Existe até uma subárea da arqueologia que trata apenas disso: a Paleoantropologia!

Clique aqui para saber mais sobre Paleoantropologia

Este pequeno catálogo de hominínios foi feito com base nos livros mais recentes sobre a área, assim como nos artigos científico mais recentes sobre cada hominínio.

Para quem tem interesse em estudar mais sobre evolução humana, recomendo o livro “Evolution: The Human Story” da Alice Roberts. Esse livro faz um compilado de todas as espécies hominínias já descobertas até 2011. O livro é muito didático!

E recomendo também o livro brasileiro: “Assim caminhou a Humanidade“, de 2015, organizado por pesquisadores do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP: Walter Neves, Miguel Rangel e Rui Murrieta. É a publicação mais recente sobre o tema em língua portuguesa.

A Evolução Humana explicada de forma simples

Ao longo dos últimos 100 anos o nosso conhecimento sobre nossos ancestrais aumentou significantemente, e estamos cada vez mais próximos de entender a árvore genealógica hominínia. E se falamos em árvore genealógica, isso significa que a evolução humana, assim como de qualquer outro ser vivo, não é linear! A animação abaixo apresenta um esquema bem simples para entender como a evolução funciona:

evlução humana

A evolução gerou diferentes espécies hominínias, todas tendo um ancestral em comum. O termo “hominínio”, aliás, é o termo técnico mais atual utilizado pelos paleoantropólogos e arqueólogos para se referir às espécies listadas abaixo, sendo elas parte da árvore genealógica dos humanos modernos. Todas estas espécies são frutos de uma outra espécie: o nosso ancestral comum entre os humanos modernos e os chimpanzés. Ainda não sabemos quem é este ancestral em comum, pois ele nunca foi encontrado. Então quem é o nosso ancestral hominínio mais antigo? Ainda não sabemos, mas podemos estar perto de resolver isso.

Um dos fatores que os especialistas utilizam para diferenciar a linhagem dos chimpanzés e a linhagem dos humanos é a capacidade de caminhar sobre duas pernas. Analisando os esqueletos fósseis, podemos saber isso identificando pernas mais fortes, por exemplo. Também é possível através da análise do forâmen magnum. Forâmen magnum é o nome científico daquele orifício do crânio onde a a coluna vertebral fica encaixada. Nos seres bípedes, ou seja, que são capazes de andar apenas sobre duas pernas, este orifício está localizado embaixo do crânio, na porção central. Em seres como gorilas ou chimpanzés, que só andam sobre duas pernas com pouca frequência, este orifício está localizado um pouco mais atrás. Veja o exemplo abaixo:

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Diferença na localização do forâmen magnum em chimpanzés, humanos e Sahelanthropus (provável ancestral da linhagem humana).

Além da localização deste orifício, também é necessário considerar o direcionamento, pois a coluna seguirá este mesmo direcionamento, como mostra o exemplo abaixo.

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A diferença no direcionamento do forâmen magnum afeta a  coluna vertebral de formas diferentes em gorilas e humanos.

E qual seria a espécie mais antiga que já conseguia andar sobre duas pernas? Confira abaixo todos os hominínios conhecidos até hoje.

Sahelanthropus tchadensis

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Crânio fóssil de um Sahelanthropus tchadensis, apelidado de Toumai

Os cientistas tendem a acreditar que o nosso ancestral em comum com o chimpanzé viveu entre 9 e 7 milhões de anos atrás. O Sahelantropus tchadensis, é o hominínio mais próximo desta data que conhecemos. Em 2001 o crânio acima foi encontrado em uma escavação no Chade, centro-norte da África. Apesar de apenas um crânio, fragmentos de mandíbula e alguns dentes terem sido encontrados, uma característica despertou muita atenção: a localização do forâmen magnum. Aparentemente, o Sahelantropus tchadensis já tinha a capacidade de se erguer para caminhar em pé como um humano moderno. Talvez ele não caminhasse sobre duas perna com a mesma frequência que os humanos, mas provavelmente já tinha muito mais liberdade para caminhar sem usar os braços. Apena um crânio foi encontrado até hoje, e foi batizado como “Toumai”.

Período em que viveu: 7-6 milhões de anos atrás

Onde: Centro/Norte da África

Tamanho do Cérebro: 320-380 cm³

Altura: desconhecido

Orrorin tugenensis

Fragmentos fossilizados de ossos e dentes de um Orrorin tugenensis. Note a espessura do fêmur (o osso grande do lado direito).

Um dente molar foi encontrado pela primeira vez em 1974, e em 2001 outras partes de diversos indivíduos foram encontradas em escavações no Quênia. No entanto, nenhum crânio ou esqueleto mais completo de um indivíduo inteiro foi encontrado. Apesar disso, estes fragmentos ósseos se mostraram suficientes para identificação de um grande primata, já que nenhum outro tipo de animal tem ossos e dentes tão parecidos com estes. O que mais despertou atenção nos pesquisadores foi a espessura do fêmur (o osso da coxa). Ele é robusto o suficiente para suportar o peso necessário para que um ser caminhe andando sobre duas pernas. Desta forma os cientistas conseguiram identificar uma nova espécie hominínia.

Período em que viveu: 6,2 – 5,6 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: desconhecido

Altura: desconhecido

Ardipithecus kadabba

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Fragmentos fósseis de mandíbula, dentes, clavícula, mãos e pés de um Ardipitechus kadabba

Os vestígios deste hominínio foram encontrados em escavações durante os anos 90, na Etiópia, e na época acreditava-se que se tratava de outro hominínio já conhecido: o Ardipithecus ramidus. No entanto, alguns osteoarqueólogos (arqueólogos especializados em esqueletos), no ano de 2004, perceberam leves diferenças na anatomia de alguns dentes. Além disso, estes vestígios eram 1 milhão de anos mais velhos que os do Ardipithecus ramidus. Logo, os pesquisadores entenderam que se tratava de uma outra espécie de Ardipithecus.

Período em que viveu: 5,8 – 5,2 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: desconhecido

Altura: desconhecido

Ardipithecus ramidus

Vestígios fósseis de Ardi, um Ardipithecus ramidus

Os primeiros vestígios desta espécie foram encontrados em 1992 na Etiópia. Inicialmente pensava-se que se tratava de uma nova espécie do gênero Australopithecus. No entanto, especialistas perceberam que as características do esqueleto eram relativamente diferentes dos Australopithecus, principalmente o tamanho do cérebro que é bem menor. O esqueleto mais completo já encontrado foi batizado de “Ardi”.

Período em que viveu: 4,5 – 4,3 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 300-370 cm³

Altura média: 1,20 m

Australopithecus anamensis

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Crânio e reconstituição de Au. anamensis.

Os vestígios desta espécie foram encontrados pela primeira vez em 1965, no Kenya. Posteriormente também foi encontrado na Etiópia. Em 1994 os especialistas conseguiram classificar esta espécie a partir da análise de fragmentos ósseos do ouvido e da mandíbula, que apresentavam diferenças consideráveis dos outros Australopithecus já conhecidos. Mas foi apenas em 2016 que o primeiro crânio da espécie foi descoberto.

Período em que viveu: 4,2 – 3,8 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 370 cm³

Altura média: Indefinida

Hominínios bípedes de Laetoli

Pegadas fossilizadas em cinza vulcânica
Pegadas fossilizadas em cinza vulcânica

As pegadas ao lado foram encontradas em 1976, no sítio arqueológico Laetoli, na Tanzânia. Infelizmente, nunca foram encontrados ossos associados a estas pegadas, e a espécie hominínia responsável por elas permanece um mistério. Mas há uma grande possibilidade de serem pegadas de Australopithecus afarensis. As pegadas possuem cerca de 3,7 milhões de anos de idade, e na época de sua descoberta comprovaram as hipóteses de que neste período os nossos ancestrais já eram bípedes.

As pegadas indicam dois indivíduos, sendo um menor e um maior. Alguns pesquisadores, baseados na ideia de dimorfismo sexual (diferenças comuns entre machos e fêmeas da mesma espécie) propuseram a hipótese de que se trataria de um casal. Afinal, as pegadas de quem caminhou do lado esquerdo são menores. No entanto, poderia tratar-se de um jovem e um adulto também. As pegadas do indivíduo menor apresentam uma pisada mais forte do lado direito, o que poderia indicar que ele ou ela estariam carregando algo mais pesado deste lado, talvez um terceiro indivíduo, uma criança.

Pegadas de pelo menos outras 20 espécies animais foram identificadas na área.

Australopithecus afarensis

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Réplica de um crânio de Australopithecus afarensis

Em 1973, na Etiópia, uma equipe de arqueólogos estava realizando seu trabalho em uma escavação ao som de “Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles. Neste exato momento eles encontraram fragmentos fossilizados de um hominínio. Tratava-se da descoberta de uma nova espécie que foi posteriormente classificada como Australopithecus afarensis. Vários fragmentos do esqueleto foram encontrados naquela ocasião. Posteriormente este primeiro espécime foi identificado como uma fêmea e batizada de “Lucy”, em homenagem à música que ouviam no momento da descoberta. Até hoje dezenas de outros espécimes foram descobertos na Etiópia, Kenya e Tanzânia. O dimorfismo sexual pode ser bem notado nesta espécie. Os afarensis teriam se ramificado dos anamensis e convivido com eles por até 100 mil anos.

Período em que viveu: 3,9 – 2,9 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 387-550 cm³

Altura média: Fêmeas 1,05 m / Machos 1,51 m

Australopithecus bahrelghazali

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Mandíbula com dentes de Abel, um Australopithecus bahrelghazali

Em 1993, no Chade, paleontólogos escavavam os fósseis de algumas espécies de animais vertebrados, quando encontraram um fragmento de mandíbula de um hominínio. O indivíduo foi batizado como “Abel”, e nada mais dele ou de outros espécimes foi encontrado. Apenas 8 anos depois foi encontrado o crânio do Toumai, duas vezes mais antigo que Abel. As características da mandíbula são similares às dos outros Australopithecus, mas apresentam diferenças que permitiram classificá-lo como uma nova espécie.

Período em que viveu: 3,6 – 3,0 milhões de anos atrás

Onde: Centro/Norte da África

Tamanho do Cérebro: Desconhecido

Altura média: Desconhecido

Kenyanthropus platyops

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Crânio fossilizado de um Kenyanthropus platyops

Este crânio é o único vestígio até hoje encontrado desta espécie hominínia. Ele foi encontrado em escavações no Quênia em 1990. Naquela época já se sabia que existiam diversos hominínios, e que os humanos modernos descenderam de alguns deles. No entanto, o único hominínio já registrado entre 4 e 3 milhões de anos atrás era o Au. afarensis. O Kenyanthropus platyops foi a descoberta necessária para provar que a espécie de Lucy não era a única de hominínios no planeta naquela época. No entanto, devido a distorção tafonômica (ou seja, de processos que ocorreram após a morte do indivíduo), ainda há alguns especialistas que afirmam que não é possível confiar que suas características físicas sejam suficientes para acreditar que se trata de um diferente gênero hominínio.

Período em que viveu: 3,5 – 3,3 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: Desconhecido

Altura média: Desconhecido

Australopithecus deyremeda

The type specimen (a-e) and paratype specimens (f-k) of Australopithecus deyiremeda. Image credit: Yohannes Haile-Selassie et al.
Fragmentos fossilizados de mandíbulas de Australopithecus deyiremeda.

Em 2011 arqueólogos também encontraram uma nova espécie de Australopithecus na Etiópia. Características sobre a espessura dos dentes e mandíbula foram suficientes para diferenciar os fósseis de outro hominínios que viveram na mesma época.

Período em que viveu: 3,5 – 3,3 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: Desconhecido

Altura média: Desconhecido

Australopithecus africanus

File:Australopithecus africanus - Cast of taung child.jpg
Crânio fossilizado da criança de Taung, um Australopithecus africanus

A descoberta de fósseis hominínios na África ocorreu pela primeira em 1924, na África do Sul. Até então apenas fósseis na Europa e Ásia eram conhecidos. O primeiro Australopithecus africanus a ser descoberto foi um crânio fossilizado de uma criança, onde consta até uma porção de sedimento rico em cálcio fossilizado na parte de trás do crânio com o molde do seu cérebro. Esse molde natural do cérebro já tem características similares ao dos humanos modernos. Posteriormente mais espécimes adultos foram encontrados, e mais partes de esqueletos, incluindo crânios quase inteiros. Nunca foram encontrados artefatos líticos associados a esta espécie.

Período em que viveu: 3,3 – 2,1 milhões de anos atrás

Onde: Sul da África

Tamanho do Cérebro: 428-625 cm³

Altura média: Fêmeas 1,10 m / Machos 1,35 m

O surgimento dos instrumentos de pedra lascada

Photographs of selected LOM3 artefacts. a, In situ passive ...

Ainda hoje, muitas pessoas ainda acham que o Homo habilis foi o responsável por produzir instrumentos através do lascamento de pedras pela primeira vez na história da humanidade. No entanto, em 2011 arqueólogos encontraram, no Quênia, artefatos líticos que datam de 3,3 milhões de anos (um milhão de anos mais antigo do que se sabia anteriormente). Assim como as pegadas de Laetoli, não foram encontrados fósseis hominínios associados aos artefatos. Logo, permanece o mistério sobre quem foram os primeiros hominínios a produzir artefatos de pedra lascada. É mais provável que tenham sido os Australopithecus afarensis, ou os Australopithecus deyiremeda, ou os Kenyanthropus platyops.

Estes artefatos são bem simples, tendo apenas lascas retiradas de alguns blocos de pedra, de modo que a parte lascada formou gumes (partes afiadas, como uma faca) e pontas eficientes para algumas funções, como cortar, raspar e furar outros materiais.

Homo habilis

Réplica de um crânio de Homo habilis

Esta espécie foi identificada em 1961. Foi a primeira vez que arqueólogos encontraram o gênero Homo na África. O seu crânio é ligeiramente maior que dos seus ancestrais Australopithecus. É comum encontrar fósseis desta espécie associados a artefatos líticos. Suas características físicas e sua aptidão para produção de artefatos líticos nos leva a crer que todo os Homo mais recentes sejam descendentes do Homo habilis, e não do Homo rudolfensis. Não foi o Homo Habilis que surgiu com a ideia de produzir artefatos de pedra lascada, mas foi com ele que este método passou a ser frequentemente utilizado para produzir instrumentos que os permitiam ter mais facilidade para obter alimentos. Por exemplo: cortando couro e carne e quebrando ossos de animais mortos. Foi a origem da indústria lítica Olduvaiense.

Período em que viveu: 2,8 – 1,6 milhões de anos atrás

Onde: Leste e sul da África

Tamanho do Cérebro: 600-700 cm³

Altura média: 1,00 – 1,35 m

Paranthropus aethiopicus

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Réplica do crânio do Black Skull (Caveira Negra), um Paranthropus aethiopicus

Os primeiros vestígios desta espécie foram encontrados em 1967, na Etiópia. Mas foi só em 1987 que um crânio bem preservado foi encontrado, no Quênia. Este crânio possui uma coloração bem escura, por causa da concentração de manganês no fóssil, e portanto ganhou o apelidado de “Caveira Negra” (Black Skull, em inglês).

Este é o mais antigo hominínio do gênero Paranthropus a existir. Os Paranthropus foram um gênero que, muito provavelmente, descenderam dos Australopithecus (assim com os Homo). No entanto, os Paranthropus ganharam características diferentes. Eram mais robustos que os Australopithecus, tinham mandíbulas maiores, com músculos e dentes mais poderosos. A crista sagital (no topo do crânio), onde os músculos ligados a mastigação se ancoram é muito mais expressiva que em qualquer outro gênero hominínio.

Período em que viveu: 2,7 – 2,3 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 410 cm³

Altura média: Fêmeas 1,10 m / Machos 1,35 m

Australopithecus garhi

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Réplica de um crânio fossilizado de Australopithecus garhi

 Esta espécie foi descoberta em 1990 na Etiópia. Poucos vestígios foram encontrados, mas foram o suficiente para evidenciar diferenças sobre os ouros Australopithecus, como uma crista sagital um pouco maior e pernas mais longas. Não existem evidências do uso de pedra lascada por estes hominínios.

Período em que viveu: 2,5 – 2,3 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 450 cm³

Altura média: Desconhecido

Homo rudolfensis

homo rudolfensis specimen lower jaw
Crânio e mandíbula de diferentes indivíduos da espécie Homo rudolfensis

Esta espécie foi encontrada pela primeira vez em 1972, no Quênia. Nesta época o Homo habilis já havia sido descoberto. No entanto, apesar da grande similaridade entre os crânios dos dois Homo, um debate muito grande ficou mal resolvido. Será que os vestígios classificados como Homo rudolfensis não seriam, na verdade, Homo habilis? Afinal, a ausência de vestígios fósseis bem preservados para uma comparação mais detalhada deixava essa questão em aberto. Isso mudou recentemente, em 2012, quando pesquisadores publicaram um artigo sobre a descoberta de mandíbulas e dentes fossilizados e que permitiram uma comparação detalhada. O artigo confirma o Homo rudolfensis como uma espécie diferente do Homo habilis. Um dos pontos principais foi demonstrar que o Homo rudolfensis não possuía um queixo tão proeminente quanto o do Homo Habilis. O Homo rudolfensis é a espécie do gênero Homo mais antigo que se há registro. Nota-se um grande aumento no tamanho do cérebro em relação aos seus ancestrais. Nenhuma evidência do uso de artefatos de pedra lascada por esta espécie foi encontrada até hoje.

Período em que viveu: 2,5 – 1,7 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 750-800 cm³

Altura média: Desconhecido

Primeira saída de hominínios da África

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Exemplo de ferramentas de pedra lascada datadas em 2,5 milhões de anos, na Jordânia.

Ainda que não se saiba qual espécie teria dado a origem às primeiras ferramentas fora da África, já sabemos que foram os Homo habilis que passaram a produzir ferramentas em grande escala. Em 2019, arqueólogos brasileiros anunciaram a descoberta de centenas de artefatos no Vale do Zarqa, na Jordânia, datados em 2,5 milhões de anos. Esta é a evidência mais antiga de hominínios fora da África!

Paranthropus boisei

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Réplica de crânio de um Paranthropus boisei

Esta espécie foi encontrada pela primeira vez na Tanzânia em 1959, e o fóssil encontrado foi apelidado de “Homem quebra nozes”, devido a sua poderosa mandíbula capaz de facilmente quebrar alimentos duros. Posteriormente mais indivíduos desta espécie foram encontrados também no Quênia e Etiópia. Ele difere do Paranthropus aethiopicus, principalmente, pela projeção um pouco menor da face e o tamanho maior do cérebro.

Período em que viveu: 2,3 – 1,4 milhões de anos atrás

Onde: Leste da África

Tamanho do Cérebro: 475-545 cm³

Altura média: 1,00 – 1,35 m

Paranthropus robustus

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Crânio fossilizado original de um Paranthropus robustus

A descoberta foi feita pela primeira vez em 1938, na África do Sul. Esta espécie é muito similar ao Paranthropus boisei. As diferenças estão no fato de que o robustus tem características menos exageradas no crânio, como a crista sagital e tamanhos dos dentes e mandíbula.

Período em que viveu: 2,0 – 1,2 milhões de anos atrás

Onde: Sul da África

Tamanho do Cérebro: 530 cm³

Altura média: 1,1 – 1,3 m

Australopithecus sediba

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Crânio fossilizado de um Australopithecus sediba

Esta espécie foi descoberta em 2008, na África do Sul. Um garoto de nove anos, filho de um paleantropólogo (Dr. Lee Berger) que pesquisava na região, foi quem achou um osso pela primeira vez. A partir daí seu pai resolveu focar suas pesquisas naquele local, resultando no achado de dois esqueletos desta nova espécie. Apesar de sua  similaridade incontestável com os seus ancestrais Australopithecus, esta espécie também apresenta características similares no crânio e até mesmo na bacia com o gênero Homo.

Período em que viveu: 1,95 – 1,78 milhões de anos atrás

Onde: Sul da África

Tamanho do Cérebro: 420-450 cm³

Altura média: 1,27 m

Homo erectus

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Réplica do “Homem de Pequim”, um Homo erectus encontrado na China

O Homo erectus conviveu com o Homo ergaster na África, além dos outros hominínios que ainda não haviam sido extintos. No entanto, os Homo ergaster fizeram algo inédito na história da humanidade: Migraram para fora da África!!! A saída da África ocorreu pelo menos 200 mil anos antes dos Homo ergaster desenvolverem os machados de mão. Portanto, os Homo erectus que saíram da África, e seus descendentes, nunca chegaram a adotar o método do lascamento bifacial. Com exceção de alguns artefatos encontrados na China, que parecem machados de mão pouco elaborados, os Homo erectus  que viveram fora da África continuaram produzindo os mesmos instrumentos que já eram produzidos pelos Australopithecus.

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Exemplo de uma machado de mão produzido pela técnica de lascamento bifacial. Esta peça, curiosamente, possui um fóssil preservado no centro.

O Homo erectus, assim como o seu possível ancestral (Homo habilis) também produzia artefatos simples de pedra lascada. No entanto, cerca de 1,6 milhões de anos atrás, os Homo erectus causaram uma revolução no desenvolvimento das indústrias de pedra lascada. Após quase 2 milhões de anos de hominínios produzindo os mesmo tipos de lascas e instrumentos de pedra lascada, esta espécie desenvolveu um método mais complexo de produção de artefatos: o lascamento bifacial. Os blocos de pedra eram lascados dos dois lados, e seguiam sequências lógicas nas quais é possível criar os artefatos que conhecemos como “machados de mão”. Tratam-se de instrumentos com gume afiados que formam uma ponta, e uma área sem gumes onde é possível segurar a peça para utilização.

Os arqueólogos costumam associar o desenvolvimento desta técnica de lascamento ao aumento do cérebro. Inclusive, alguns acreditam que neste momento algum tipo de linguagem familiar ao que conhecemos já estava se desenvolvendo, pois só assim seria possível aprender e ensinar o método de lascamento bifacial.

Os Homo erectus, além de inovarem na tecnologia de pedra lascada, inovaram métodos de migração. E mais notável delas foi a navegação! Isso mesmo, os Homo erectus não apenas caminharam para fora da África, mas atravessaram trechos do oceano até chegar nas ilhas da Oceania. A primeira vez em que um fóssil desta espécie foi encontrada aconteceu em 1891, na Ilha de Java. Alguns dos fósseis encontrados nesta ilha possuem pelo menos 1,5 milhões de anos de idade.

Os fósseis mais antigos a serem encontrados fora da África são provenientes de um sítio arqueológico na Geórgia, há 1,8 milhões de anos. Esta descoberta ocorreu em 1991, e na época os fósseis foram considerados uma espécie nova: Homo georgicus. Posteriormente, os especialistas entraram em um acordo e consideraram estes fósseis como uma variação do Homo erectus. Afinal, suas características físicas não possuem diferenças importantes.

Os Homo erectus se provaram uma espécie bem sucedida. Apesar de seu conjunto de instrumentos lascados não ter se desenvolvido, eles foram capazes de atravessar o planeta, cruzar mares, e provavelmente produziram instrumentos com materiais que não se preservam tão bem quanto as rochas, tais como instrumentos feitos com bambu, por exemplo. Esta espécie foi extinta muito recentemente, há cerca de 30 mil anos atrás. Até mesmo os Neandertais já haviam sido extintos nessa época. Os Homo erectus conseguiram algo que nós, humanos modernos, ainda estamos longe de conseguir: permanecerem no planeta por quase 2 milhões de anos!

Período em que viveu: 2 milhões – 30 mil anos atrás

Onde: África, Oriente Médio, Leste da Ásia, Ilha de Java…

Tamanho do Cérebro: 750 – 1.300 cm³

Altura média: 1,60 – 1,80 m

Homo ergaster

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Crânio fossilizado do garoto de Turkana, um Homo ergaster

Está espécie foi identificada pela primeira vez a partir de uma mandíbula encontrada no Quênia em 1971. Mais tarde, em 1984, uma esqueleto quase completo de um rapaz jovem foi encontrado e apelidado de “garoto de Turkana” (Turkana boy). Este achado foi importantíssimo para uma descrição mais correta das características físicas desta espécie.

Alguns pesquisadores sugerem que o Homo ergaster é apenas uma variação do Homo erectus, mas muitos ainda defendem que suas características físicas são diferentes o suficiente para classificá-los como espécies diferentes. É também o primeiro hominínio a possivelmente controlar o fogo.

Período em que viveu: 1,9 – 1,5 milhões de anos atrás

Onde: Leste e Sul da África

Tamanho do Cérebro: 600-910 cm³

Altura média: 1,45 – 1,85 m

Homo antecessor

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Crânio fossilizado de um Homo antecessor

Os primeiro vestígios fósseis do Homo antecessor foram encontrados em 1994, no norte da Espanha. Outros fósseis foram encontrados na região posteriormente. Seus artefatos não se desenvolveram muito, e tampouco produziram machados de mão tão complexos quanto os desenvolvidos pelos Homo ergaster.

Além dos fósseis achados em sítios arqueológicos no norte da Espanha, outros achados na França e Inglaterra são relacionados ao Homo antecessor, já nenhuma outra espécie hominínia habitava a Europa naquela época. Um dos exemplos mais conhecidos são algumas pegadas encontradas no litoral leste da Inglaterra datados em 800 mil anos. Naquela época, o mar estava centenas de metros abaixo do nível atual, possibilitando a caminhada da França até a Inglaterra sem necessidade de navegação. No entanto, já sabemos que a navegação já existia na Oceania, e alguns arqueólogos sugerem que o Homo antecessor ou sua espécie ancestral (provavelmente o Homo erectus que habitavam o norte Africano),  também desenvolveu a navegação e chegou no oeste da Europa cruzando o Mar Mediterrâneo a partir do norte da África. Foram os primeiros hominínios a  ocupar o atual continente Europeu.

Período em que viveu: 1,2 milhões – 500 mil anos atrás

Onde: Oeste da Europa

Tamanho do Cérebro: 1.000 cm³

Altura média: 1,60 – 1,80 m

Homo heidelbergensis

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Crânio de um Homo heidelbergensis

Esta espécie foi encontrada pela primeira vez em 1907, na Alemanha. Posteriormente, mais fósseis foram achados pela Europa e África. É provável que este hominínio, assim como os Homo Antecessor, tenham descendido dos Homo erectus, no norte da África. Há 500 mil anos atrás esta espécie também já havia migrado para a Europa. Mas diferente dos Homo antecessor, os Homo heidelbergensis adotaram a técnica bifacial e produziam os mesmos machados de mão que o Homo ergaster desenvolveram na África. Os Homo heidelbergensis levaram este método para a Europa e foram desenvolvendo algumas diferenças técnicas na produção dos artefatos. Suas características físicas já são muito similares a dos humanos modernos, e é bem possível que nós nem notássemos algo tão peculiar se o víssemos andando na rua.

Período em que viveu: 600 – 200 mil anos atrás

Onde: África e Europa

Tamanho do Cérebro: 1.100 – 1.400 cm³

Altura média: 1,45 – 1,85 m

Humanos de Denisova

Replica of the molar of Denisova. Part of the roots was detroyed to study the mtDNA. Their size and shape indicate it is neither neanderthal nor sapiens.
Dente molar de um humano de Denisova

O hominínio encontrado na região de Denisova, no extremo sul da Sibéria (Rússia), é uma descoberta feita em 2010, a partir de um fragmento de osso de um dedo mindinho datado em 41 mil anos. A princípio, poderia ser um vestígio de um Homo neanderthalensis,  já que vestígios de neandertais já foram encontrados na Sibéria e eles chegaram a coexistir nesta época. Ou talvez fosse um vestígio de Homo sapiens, que já estava explorando o planeta neste momento.

No entanto, para surpresa da comunidade científica, os resultados de uma análise do DNA preservado neste fragmento ósseo revelaram que o ser humano encontrado não era nem neandertal nem sapiens, mas se tratava de uma mulher de uma espécie diferente. De acordo com os geneticistas, a genética da mulher encontrada em Denisova revelam que sua espécie e os neandertais se desenvolveram a partir de uma mesma espécie ancestral que habitava o Oriente Médio há 400 mil anos atrás, muito provavelmente o Homo heidelbergensis. Alguns dentes molares e um fragmento de crânio foram encontrados posteriormente, e as pesquisas na região continuam até hoje, na tentativa de encontrar crânios e outros vestígios esqueletais mais completos.

Período em que viveu: 400 – 40 mil anos atrás

Onde: Sul da Sibéria

Tamanho do Cérebro: Desconhecido

Altura média: Desconhecido

Homo neanderthalensis, os Neandertais

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Na esquerda: crânio de um Homo sapiens. Na direita: crânio de um Homo neanderthalensis

Os primeiros vestígios de neandertais foram encontrados em 1829 na Bélgica, e em Gibraltar em 1848. Mas foi apenas em 1857 que um anatomista identificou uma espécie humana que não era igual a dos humano modernos, a partir do estudo de um crânio encontrado um ano antes no Vale Neander, na Alemanha. Alguns anos depois este “ser humano primitivo”, como era considerado na época, foi chamado de Homo neaderthalensis. Por muitos anos acreditava-se que os Neandertais foram nossos ancestrais, mas graças a diversas outras descobertas feitas nos últimos 160 anos, além das diversas análises completas de DNA já realizadas, sabemos hoje que os neandertais não deram origem aos Homo sapiens. Os neandertais evoluíram dos Homo heidelbergensis  que habitavam a Europa há cerca de 350 mil anos atrás. De acordo com alguns geneticistas, o DNA revelou que alguns grupos de Neandertais desenvolveram, pela primeira vez, peles e cabelos de cores mais claros, incluindo cabelos ruivos.

Esquema da retirada de lascas de um bloco de rocha através do método Levallois.

Os neandertais, apesar de serem muito parecidos com os Homo sapiens, ainda possuíam um série de características bem diferentes. O crânio dos neandertais era maior que o nosso na época que eles conviveram! A área da sobrancelha era mais expressiva, e a testa era menor. Eles costumavam ser mais baixos que os Homo sapiens, mas eram mais robustos. Além disso, os neandertais eram claramente seres com uma inteligência muito avançada. Eles foram os responsáveis pelo desenvolvimento de um método de produção de artefatos de pedra lascada muito complexo. Tão complexo que os Homo sapiens nunca desenvolveram ele por conta própria, só foram aprender este método com os neandertais. Trata-se do método Levallois (em francês, pronuncia-se “levaluá”). Este método permite retirar diversas lascas de um mesmo bloco, com formas e tamanhos bem específicos, para a produção de diferentes instrumentos. A produção dos machados de mão também continuou, podendo ser até mesmo partir das lascas obtida pelo método levallois. A evidência mais antiga para rituais de enterramento de pessoas mortas também está relacionada aos neandertais, mas não parece ter sido uma prática comum da espécie. Alguns outros achados também indicam que alguns grupos realizavam algum tipo de ritual, mas também não era algo comum. É muito provável que os neandertais desenvolveram métodos para confecção de roupas.

Apesar da grande inteligência dos Neandertais, eles eram seres que, de um modo geral, tiveram uma história de sobrevivência bem drástica. Eles evoluíram de modo que puderam se adaptar às condições extremas da era do gelo na Europa, graças às características físicas do seu corpo, e do novo conjunto de instrumentos desenvolvidos. Mas a partir de cerca de 55 mil anos atrás, mudanças climáticas deixaram o planeta mais quente, e o frio extremo deixou de existir na Europa por alguns milhares de anos. Estes poucos milhares de anos foram suficientes para afeta drasticamente a sobrevivência dos neandertais, que estavam adaptados àquele ambiente, assim como à caça de animais que viviam naquele clima gélido. A partir de 45 mil anos atrás já não haviam muito neandertais vivos. E foi bem nessa época que os Homo sapiens chegaram na Europa pela primeira vez. Por alguns poucos milhares de anos ambas as espécies humanas conviveram, até que os Neandertais foram totalmente substituídos por populações de Homo sapiens.

Período em que viveu: 350 – 28 mil anos atrás

Onde: Europa, Oriente Médio e Sibéria

Tamanho do Cérebro: 1.100 – 1.600 cm³

Altura média: 1,45 – 1,85 m

Homo naledi

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Réplica de crânio de Homo naledi

A descoberta aconteceu no ano de 2013, em uma caverna na África do Sul. Na ocasião apenas pessoas menores conseguiam entrar na caverna. Apenas um grupo de espeleólogas que fazia parte da pesquisa conseguiu entrar na caverna e encontrar os fósseis.

As características físicas dos fósseis são muito similares aos Homo e aos Australopithecus ao mesmo tempo, na época da descoberta não haviam datações suficientes para afirmar uma idade precisa para estes fósseis, mas era possível estimar que era mais recente que 3 milhões de anos.

Em 2017 datações dos dentes dos fósseis revelaram que os fósseis eram muito mais recentes do que se esperava, de modo que eles possivelmente conviveram com os primeiros Homo sapiens. Apesar da sua idade, as características dos fósseis não indicam o Homo heidelbergensis como seu ancestral direto. É possível que os Homo naledi tenham se ramificado a partir dos Homo erectus, mas sua ancestralidade ainda é incerta.

Período em que viveu: 335 – 236 mil anos atrás

Onde: Sul da África

Tamanho do Cérebro: 465-560 cm³

Altura média: 1,5 m

Homo sapiens

Reconstituição 3D de um crânio de encontrado em Jebel Irhoud, Marrocos, datado em 315 mil anos de idade. O espécime em questão parece ser um “intermediário entre os Homo heidelbergensis e os Homo sapiens.

As evidências mais antigas que existem para o Homo sapiens, foram encontradas na Etiópia, e datam de 195 mil anos. Uma descoberta publicada em 2017 revelou que alguns esqueletos no Marrocos, que datam de pelo menos 300 mil anos atrás, apesar de não serem exatamente Homo sapiens, já possuem feições muito mais próximas aos humanos modernos do que seus ancestrais, os Homo heidelbergensis. Dado a todas as evidências, os Homo sapiens muito provavelmente evoluiram a partir dos Homo heidelbergensis que habitavam o norte da África. Os Homo sapiens também utilizavam do método bifacial para produção de machados de mão, e só passaram a desenvolver novos tipos de  instrumentos de pedra lascada após migrarem para fora do continente Africano. Há 80 mil anos atrás os Homo sapiens chegaram no extremo Oriente. Há cerca de 50 mil anos os Homo sapiens chegaram na Europa pela primeira vez. Se por um lado os neandertais estavam sofrendo com o aquecimento do planeta, já que a Europa se tornou um lugar muito quente para eles, por outro lado isso permitiu que os Homo sapiens pudessem por seu pés neste continente pela primeira vez, já que o ambiente que não era mais extremamente gelado. Há 40 mil anos eles chegaram navegando até a Austrália (os primeiros grupos aborígenes) e no Japão. O continente americano ainda é um assunto de muito debate.

É certo que há 14 mil anos atrás o continente americano já estava povoado por grupo vindos do leste da Ásia. Mas existem cada vez mais evidências que provam que os Homo sapiens chegaram antes disso. Pesquisas no Canadá e no Brasil (na região da Serra da Capivara, Piauí) vem comprovando isso através de instrumentos de pedra lascada. Um sítio na Califórnia, nos Estados Unidos, tem datas de 130 mil anos, indicando que alguma outra espécie hominínia pode ter chegado até lá muito antes dos sapiens. Infelizmente, nenhum esqueleto tão antigo foi encontrado. Os esqueletos mais antigos já encontrados nas Américas são o de uma mulher encontrada no México, apelidada de Naia, e uma mulher encontrada na região de Lagoa Santa em Minas Gerais, no Brasil. Ambos os esqueletos possuem cerca de 13 mil anos de idade. De todo modo, o Homo sapiens foi o primeiro a pisar no continente americano.

Apesar de ter havido uma muito conhecida “explosão cultural” (ou, revolução cultural) do Homo sapiens, na Europa, na qual ele passou a desenvolver uma grande variedade de métodos de produção de instrumentos de pedra e osso, além do desenvolvimento das representações rupestres e artefatos simbólicos; este desenvolvimento cultural também ocorreu em todas as demais regiões que o Homo sapiens passou a ocupar ao longo dos milhares de anos. A evidência para comportamento simbólico mais antiga é em Blombos Cave, na África do Sul há 80 mil anos, onde foram encontrados, instrumentos feitos em osso, instrumentos para pesca, fogueiras e até mesmo blocos de ocre (hematita) usadas para pintura com entalhes de formas geométricas em uma das superfícies.

Outras diferenças culturais foram surgindo em diferentes momentos do tempo, em diferentes regiões e populações, tais como o surgimento da agricultura há cerca de 10 mil anos (como na Europa) até 3 mil anos (como no Brasil), e o surgimento da escrita e das cidades há cerca de 5 mil anos (como no Oriente Médio) ou sem nunca ter surgido até contato com outros povos (como no Brasil).

Período em que viveu: > 300 mil anos atrás – atualmente

Onde: África, Ásia, Europa, Oceania e América

Tamanho do Cérebro: 1.200 – 1.400 cm³

Altura média: 1,50 – 1,80 m

Homo floresiensis, os Hobbits

File:Homo floresiensis skull - Naturmuseum Senckenberg - DSC02091 ...

Crânio de um Homo floresiensis (Hobbit)

No ano de 2003 descobrimos que o Homo sapiens não foi a última espécie humana a surgir no planeta. Os vestígios dos Homo floresiensis foram achados na ilha de Flores, na indonésia. Estes humanos eram pequenos, e portanto ganharam o apelido de Hobbits (sim, agora podemos dizer que os Hobbits existiram). A ilha possui vestígios de ocupação humana há pelo menos 1 milhão de anos. Nesta época o Homo erectus já havia chegado na ilha de Java, também na Indonésia. Apesar da falta de evidências que comprovem a ancestralidade dos Hobbits, a hipótese mais provável é de que os Homo erectus que viviam nesta ilha sofreram um processo evolutivo conhecido como “nanismo insular”, ou seja, a espécie se originou através de um processo de redução no tamanho devido à ocupação de um habitat limitado, muito pequeno. Os instrumentos de pedra lascada desta espécie eram bem simples, assim como os dos Homo erectus. Está espécie foi a última a ter surgido, e também foi a última a ter desaparecido, quando os sapiens já haviam ocupado todo o continente americano.

Período em que viveu: 95 – 12 mil anos atrás

Onde: Ilha de Flores (Indonésia)

Tamanho do Cérebro: 380 – 420 cm³

Altura média: 1,10 m

Homo luzonensis

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Vestígios ósseos e dentes de Homo luzonensis

A descoberta de alguns vestígios esqueletais de Homo luzonensis foi realizada entre 2007 e 2011 em um caverna das Filipinas. Inicialmente, os vestígios foram associados aos Homo sapiens. Contudo, um estudo realizado em 2019 revelou que se tratava de uma outra espécie do gênero Homo. Pouco se sabe sobre a espécie até o momento, além do fato de que, assim como os Homo floresiensis, esta espécie também parece ter sofrido nanismo insular, uma vez que os dentes molares de adultos são pequenos se comparados com os de outros Homo. Os vestígios foram datados em 67 mil anos, mas não é possível afirmar quando a espécie teria surgido, uma vez que vestígios de pedra lascada de até 700 mil anos são encontrados em sítios arqueológicos próximos – esses vestígios podem estar associados tanto ao Homo luzonensis quanto ao seu provável ancestral, o Homo erectus.

Período em que viveu: 67 – 50 mil anos atrás

Onde: Filipinas

Tamanho do Cérebro: Desconhecido

Altura média: Desconhecido (possivelmente similares aos Homo floresiensis)

Humanos Anatomicamente Modernos

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Representação de indivíduos de diversos grupos humanos modernos

E se eu te disser que nós não já não somos totalmente Homo sapiens? Nós possuímos genéticas bem variadas entre diferentes populações de diferentes lugares no mundo. Não foi só culturalmente que os humanos modernos se diversificaram desde os surgimento dos Homo sapiens, mas foi também biologicamente. Somos todos descendentes dos Homo sapiens originados na África. Graças à genética, sabemos que todos os Homo sapiens são descendentes de uma mulher africana que viveu há cerca de 200 mil anos. Desde então grupos de sapiens se espalharam pelo mundo todo, e foram se desenvolvendo culturalmente e biologicamente em diferentes lugares do mundo, dando origem às inúmeras etnias que conhecemos. E mais recentemente, desde o surgimento das grandes civilizações, mas principalmente a partir o desenvolvimento de meios de transportes mais rápidos (desde as grandes navegações até a aviação) estas diferentes etnias passaram a entraram cada vez mais em contato umas com as outras e se misturando. Assim surgiu essa grande variedade de fenótipos (aparência física) de pessoas ao redor do mundo. Mas se somos todos descendentes de uma mesma mulher, uma Homo sapiens, que viveu na África há 200 mil anos, então somos 100% Homo sapiens do mesmo jeito, não é verdade? Afinal, a variedade biológica de seres humanos atual não é tão grande a ponto de termos evoluído para diferentes espécies.

Na verdade, somos sim todos Homo sapiens. Mas não somos mais 100% Homo sapiens. Em 200 mil anos de história humana, os Homo sapiens chegaram a conviver com os últimos Homo Heidelbergensis na África (os quais deram origem aos sapiens), com os últimos Neandertais na Europa, os últimos humanos de Denisova na Sibéria, os últimos Homo erectus na Ásia e Oceania, e talvez até mesmo tenham encontrado os Hobbits em Flores. Estudos genéticos já confirmaram que a a maioria das pessoas atualmente também carrega um pouco da genética dos Neandertais e dos humanos de Denisova. Inclusive, já foram achados esqueletos de seres humanos híbridos, frutos do relacionamento entre sapiens e neandertais na Europa.

Apesar da definição biológica mais conhecida para “espécie” estar relacionada a relacionada à geração de descendentes férteis, há algumas exceções para esta regra, e diferentes espécies animais podem sim, as vezes, gerar descendentes férteis. Este parece ter sido o caso com os humanos anatomicamente modernos, que são principalmente Homo sapiens, mas que também carregam um pouco da genética dos humanos neandertais e de Denisova.

Para saber mais sobre a origem dos humanos modernos, leia i texto a seguir: Qual é a origem do Homo sapiens? O fim do debate “Out of Africa” vs. Multi-regionalismo