Tafonomia

Por: Gabriela Mingatos e Joseane Ferraz

Muito do que chega até nós pesquisadores, é só parte do que realmente existiu no passado. O porque isso acontece? é missão da Tafonomia responder. Devemos ressaltar que, a Paleontologia e Arqueologia, por vezes, compartilham das mesmas áreas de conhecimento, como por exemplo, os estudos e princípios tafonômicos.

A tafonomia estuda basicamente os processos que afetaram (positivamente ou não) a preservação dos organismos (biológicos e sedimentares) ao longo do tempo.  

Em outras palavras, a tafonomia estuda todos os processos que ocorreram após a morte do organismo até a sua fossilização e exposição na superfície da Terra.

O estudo dos processos que interferiam no registro fossilifero teve início na paleontologia ainda no século XIX, contudo, ainda não era chamada de tafonomia. Foi somente nos anos 40 que Efremov deu nome a esse estudo e postulou as então chamadas “leis do sepultamento” uma forma sistemática de compreender “a transição dos organismos da biosfera para a litosfera”, ou seja, os processos que vão desde a morte do organismo até o momento em que ele se tornar um fóssil.

Nos anos 70 Adolf Seilacher empregou o termo Fossillagertästten para um corpo rochoso que contém informações paleontológicas e tratou o registro fóssil como clastos que sofrem transformações, assim como e em conjunto com partículas sedimentares (compactação, movimentação, seleção e distorção).

Os transportes da carcaça podem gerar fósseis em distorções caóticas

Contrariando o proposto por Efremov, com o passar do tempo e do entendimento dos variados processos que afetam o registro fossilifero, chegou-se a conclusão de que não era possível pensar em leis e padrões que garantissem a conservação dos fosseis ao longo do tempo.

Uma informação que podemos obter através da tafonomia é quanto tempo, o organismo levou para ser soterrado. Podemos dizer que fósseis mais completos e bem preservados podem ser sido soterrados mais rapidamente do que aqueles que encontramos fragmentados/quebrados isso porque todos os restos orgânicos quando ficam expostos tendem a ser decompostos seja pela ação de bactérias ou animais que se alimentam de carcaças. Foto: Ulbra.

De acordo com Behremeyer, hoje, a tafonomia não serve apenas à paleontologia, seus métodos são muitos mais amplos e podem ser aplicados a diversas ciências, incluindo a Arqueologia.

Quando um(a) paleontólogo(a) ou arqueólogo(a) vai pra campo, aquilo que eles conseguem encontrar de vestígios é a última etapa de sua conservação. Muitas informações foram perdidas ao longo do tempo, seja pela ação de intempéries, seja pela acidez do solo, ou muitas vezes pela exposição prolongada desses organismos em superfície, pisoteamento de outros animais e humanos, e mesmo o preparo desses animais por grupos humanos, que inclui formas de consumo, a dieta e o uso e descarte dos ossos desses animais etc.

Como pegadas de um dinossauro de 29 metros foram parar no teto de uma caverna? A tafonomia pode ajudar a explicar!
Fonte de imagem: Journal of Vertebrate Paleontology, 2020. doi:10.1080/02724634.2019.172828.

Saber o por que e como esses acontecimentos afetaram o registro tanto paleontológico quanto arqueológico, auxilia no entendimento e na construção do cenário da vida na Terra no passado. Portanto, ao olhar esses fragmentos, além das informações do momento em que ocorreu a morte e a deposição de um organismo, vislumbramos também uma história mais ampla do que se seguiu naquele ambiente.

A aplicação da tafonomia vai além dos vestígios faunísticos, sendo aplicada também a icnofosseis, na paleontologia e na arqueologia (pegadas), as transformações sedimentares, na geologia, a objetos líticos, cerâmicos e demais registros arqueológicos.

Para saber mais sobre fossilização e preservação, acesse o quarto episódio da série Evolução Humana, produzido pelo Arqueologia e Pré-história em parceria com o laboratório de Estudos Evolutivos humanos: