“Desde que a humanidade começou a se fazer perguntas sobre quem nós somos e de onde viemos, homens e mulheres têm olhado para as estrelas, embaixo de pedras e ao microscópio para encontrar respostas.” – Rachel Ignotofsky
Há centenas de anos, muitas dessas perguntas vêm sendo respondidas e outras mais vem sendo feitas quando olhamos embaixo de rochas e analisamos os vestígios dos organismos preservados nelas. A ciência responsável por nos levar a tempos remotos e desvendar como eram as formas de vida muito antigas é a Paleontologia. Embora hoje, ela seja uma ciência consolidada, seu nascimento foi bem lento.
Na Idade Média, os fósseis eram considerados criaturas misteriosas e devido ao forte contexto religioso da época, muitos consideravam os fósseis como resultados de experimentos divinos para criar formas de vida “superiores” ou que eles eram uma amostra do poder da criação. Acredita-se que os gregos foram os primeiro que vincularam esses vestígios às formas de vida pretéritas. Mas ainda, pouco se sabia sobre leis e processos que ocorrem na Natureza.
A partir do século XVII, houve grandes avanços no pensamento geológico, os quais foram fundamentais para o nascimento da Paleontologia. Nesta época, o estudioso Nicolau Steno concluiu que, a deposição de estratos rochosos ocorre sempre por ordem cronológica da base (a mais antiga) para o topo (a mais recente) da coluna estratigráfica. Esse princípio, chamado princípio da sobreposição das camadas, embora pareça simples foi um grande progresso para a geologia e é um dos três princípios básicos da estratigrafia.
Dois séculos mais tarde, Georges Cuvier, por meio da anatomia comparada provou que embora existam grupos de animais atuais que sejam anatomicamente semelhantes a fósseis, eles não pertenciam a mesmas espécies e que esses fósseis já tinham desaparecido da Terra há milhões de anos, contribuindo para a compressão das extinções em massa.
Paralelamente a Cuvier, outros célebres Naturalistas consolidaram a Paleontologia:
William Buckland é conhecido por ter escrito o primeiro relato completo de um dinossauro que ele nomeou como Megalosaurus. Mas um dos seus verdadeiros encantos na Paleontologia estava em analisar fezes fossilizadas. Buckland percebeu que, através delas era possível fazer inferências dos ambientes do passado e assim, conhecer mais sobre os ecossistemas. No entanto, Buckland não descobriu isso sozinho, Mary Anning foi fundamental para o surgimento do estudo com os coprólitos. Ela já vinha desconfiando sobre a origem dessas estruturas, pois ela frequentemente encontrava estruturas arredondadas e espiraladas (naquela época chamadas pedras de bezoar) no entorno dos fósseis e às vezes até preservadas no interior dos Ictiossauros (répteis marinhos).
Mary Anning era de origem muito humilde e sua família vivia de venda de fósseis, naquela época pouco se sabia sobre eles e eles geravam admiração e curiosidade nos naturalistas e colecionadores. Embora fosse o negócio da família de Mary, ela passou a cada vez mais se interessar pelos fósseis e fazia esboços e anotações sobre eles. Todas as descobertas de Mary despertaram a atenção dos estudiosos da época que a procuravam para comprar e até mesmo consultar suas anotações. Mary contribuiu demais para o crescimento da Paleontologia, mas por ser mulher, muita das suas contribuições foram omitidas e também, devido a seu gênero ela não pode fazer parte da sociedade de estudiosos da época. Foram poucos os homens que a mencionaram nas publicações dos seus manuscritos, Buckland foi um deles quando publicou e nomeou formalmente em 1829, os coprólitos.
Hoje Mary não é apenas conhecida por todas suas contribuições e por tamanha injustiça é também um símbolo de representatividade por todas as paleontólogas. E ela gerou o que chamamos de efeito dominó, influenciando sobremaneira o nosso olhar para a Paleontologia.
Gideon Mantell foi quem impulsionou os estudos dos dinossauros, descrevendo os primeiros dentes fósseis de Iguanodon, e posteriormente, descreveu grande parte do esqueleto do animal. A descoberta de Mantell foi um grande avanço, pois ainda naquela época havia quem pensasse que ossos de dinossauros pertenciam a humanos gigantes. O brilhantismo de Mantell acabou por despertar perturbação em Richard Owen.
Richard Owen foi mais uma peça na consolidação da Paleontologia. No entanto, era uma figura controversa e que tinha conflitos com seus pares. Durante sua vida, inúmeras vezes ele foi acusado de plágio e foi até mesmo acusado de roubar espécimes de outros cientistas. Owen tinha admiração por uma família diversificada de animais fósseis, os “lagartos terríveis”, como ele chamava e assim, ele nomeou o clado Dinosauria. Além disso, muitos dos sistemas que ele implantou para pesquisar a anatomia das espécies permanecem importantes hoje.
Bom… Esses são apenas alguns dos muitos responsáveis pela consolidação da Paleontologia. Como vimos, não é de hoje que, paleontólogos e paleontólogas procuram nas rochas respostas sobre como eram os organismos do passado.
Mas ainda assim, cada vez que encontramos um fóssil, surgem sensações maravilhosas, sorrisos e emoções pela descoberta as quais nos renovam e renovam também, a Paleontologia.
Para saber mais:
Sir Richard Owen: The man who invented the dinosaur
Gideon Algernon Mantell | British paleontologist