Por JuCa
Para quem acompanha o nosso site e já deu uma olhada na nossa página de subáreas da arqueologia não é novidade que a arqueologia é uma ciência interdisciplinar – ou seja, que importa métodos e técnicas de estudo de várias outras ciências. Mas para alguns a arqueologia ainda não é vista como uma ciência, pois ela não testaria hipóteses ou não pode prever coisas pelas leis naturais (como na física). E é exatamente isso que o arqueólogo Dr. Astolfo Araujo, docente do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, e coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente, explica em seu mais recente artigo publicado no periódico científico Estudos Avançados. Para ele, a visão de que arqueologia não é uma ciência está basicamente na falta de informação e, principalmente, porque a filosofia da ciência era dominada por físicos até pelo meno a década de 1970 – consideravam a física o modelo de ciência para avaliação de outra áreas de estudo.
Araujo explica que a ciência é um sistema de conhecimento que visa fornecer explanações a respeito de fenômenos por meio de um encadeamento retroalimentador de ideias, protocolos e atividades. E que existem duas grandes categorias de ciências: as ciências históricas (onde se enquadram a biologia, a geologia, arqueologia, paleontologia, etc.) e as ciências ahistóricas, também chamadas de experimentais (onde se enquadram a física e a química).
No artigo, Araujo ainda explica os métodos científicos utilizados pelas ciências históricas, traça um histórico da arqueologia e sua origem como uma ciência, e explica a diferença entre ciência e história. O autor ainda argumenta que a arqueologia é tão interdisciplinar que não pode ser encarada da mesma maneira que outros estudos da área das Humanidades, uma vez que suas componentes ontológicas, epistemológicas, teóricas e práticas estão mais associadas às Ciências da Terra e à Biologia do que à História ou à Antropologia. E também deixa claro que as visões que impõem a arqueologia como parte de uma outra área são de pura questão política acadêmica ou pendor pessoal. Essa é uma crítica que vários outros arqueólogos também o fazem, uma vez que em algumas universidades ao redor do mundo (incluindo o Brasil) os programas de ensino em arqueologia ainda são ligados a departamentos de outras áreas, principalmente de antropologia.
O artigo é uma leitura atualizada e obrigatória para estudantes da área. O artigo completo está disponível para leitura e download, e pode ser acessado CLICANDO AQUI.
Referência completa do trabalho:
ARAUJO, Astolfo G. M. 2018. A arqueologia como paradigma de ciência histórica e interdisciplinar. Estud. av. [online], vol.32, n.94, pp.285-308. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/s0103-40142018.3294.0019.
Tenho Uma Pergunta:
POR QUE A ARQUEOLOGIA É CONSIDERADA UMA CIÊNCIA MULTIDISCIPLINAR?
Oi, Marianny. É porque a arqueologia é uma ciência que dialoga constantemente com as biociências, geociências e as ciências exatas, além das próprias ciências humanas. Muitos dos métodos de pesquisa que usamos são adaptações de métodos já empregados em outras ciências.